Framing Britney Spears


"The New York Times Presents: Framing Britney Spears" é um documentário televisivo norte-americano realizado por Samatha Stark e produzido por Jason Stallman, Sam Dollnick e Stephanie Priess. 
Lançado a 5 de Fevereiro de 2021 e com 74 minutos de duração, centra-se na ascensão meteórica da artista pop Britney Spears, nas suas vivências e problemas de saúde mental que eventualmente levaram a tenha sido posta sob a tutela, a nível pessoal e financeiro, do pai, Jamie Spears. 
O documentário que estreou nos canais FX e FX on Hulu, examina as razões do sucesso de Britney, a sua relação com a fama, a cobertura mediática de cada passo que dava e os seus momentos de maior sofrimento e vulnerabilidade, em que todo o seu mundo pareceu ruir. As reações ao documentário foram na sua maioria positivas, com a hashtag "We are sorry Britney" a surgir como tendência na rede social Twitter. 
Penso que uma das mais valias de "Framing Britney Spears" são os testemunhos de quem conviveu de perto com ela como Kim Kaiman (antiga executiva de marketing da editora discográfica que contratou Britney, a Jive Records) ou Felicia Culotta, que foi assistente pessoal da cantora e refere que aceitou fazer a entrevista para recordar as pessoas porque ficaram rendidos a Britney Spears em primeiro lugar. Kaiman, por seu turno destaca uma memória do pai de Britney: "Ele disse-me: a minha filha vai ser tão rica que me vai comprar um barco".
"Framing Britney Spears" é um documentário que nos deixa profundamente indignados pela maneira como Britney foi tratada pelos media e explorada para ganho pessoal. Temos como exemplo o final de namoro da artista com Justin Timberlake. Na altura foi geralmente bem aceite que Justin falasse de ter tido sexo com ela, o que deu azo a capas de revistas francamente misóginas. Independentemente dos motivos que levaram à rutura, vemos em ação um discurso social que facilmente glorifica qualquer palavra saída da boca de um homem branco e fisicamente atraente e difama uma mulher jovem e sensível como Britney Spears.
É universalmente reconhecido que Britney teve ao seu redor pessoas que a manipularam e se aproveitaram da sua condição de celebridade, não tendo em conta os seus melhores interesses. Isto aplica-se a responsáveis por publicações que fizeram capas com notícias sensacionalistas e mesmo falsas ou paparazzi que conseguiam a maior parte do seu sustento mensal com fotografias exclusivas da cantora.
Os detalhes do colapso mental de Britney são sobejamente conhecidos e culminaram em episódios analisados até à exaustão como o divórcio de Kevin Federline, a noite em que rapou o cabelo ou quando foi internada compulsivamente numa unidade psiquiátrica. Na altura, a artista perdeu temporariamente o direito de estar com os filhos, e crê-se que estes tenham sido usados como forma de impor a tutela sob a artista. 
Sob o regime de tutela, Britney tem os mesmos direitos legais que uma miúda de 12 anos e cada despesa que faz tem de ser autorizada. Em termos gerais, uma tutela é quando a pessoa a que a mesma se aplica tem os seus assuntos financeiros e vida diária sob supervisão de outro indivíduo definido por tribunal. Normalmente, as razões para tal são limitações decorrentes do estado mental ou idade avançada. Britney está nesta situação há treze anos.
No seu documentário para a MTV "For the record" (2008) Britney diz que cada dia é como se fosse uma cena do filme "Feitiço do tempo", sem qualquer emoção, e que até um prisoneiro sabe o dia em que a sua sentença vai acabar. Vemos uma jovem, na altura com 26/27 anos que anseia sobretudo por liberdade em afirmações como: "Se não estivesse sob tantas restrições que estou agora, com todos os advogados e médicos e pessoas a analisarem-me todos os dias e todo esse tipo de coisas, se não estivesse aqui, sentir-me-ia liberada e como se fosse eu mesma. Estou como que presa neste lugar e como é que lido? Eu apenas lido com isto todos os dias" ou "Quando lhes digo como me sinto é como se eles ouvissem mas não escutassem realmente. Eles ouvem o que que querem ouvir. É mau… Estou triste", diz, não conseguindo reter as lágrimas.
Nos últimos anos, o movimento criado pelos fãs #FreeBritney ganhou cada vez mais proeminência, no sentido de tentar influenciar as peças do jogo a favor de Britney, com fortes manifestações de apoio a surgirem por cada canto do globo.
Os fãs perguntam-se como a artista terá reagido a este documentário. Informações vindas do Instagram da própria Britney são contraditórias. A 30 de Março afirma: "Não vi o documentário mas pelo que vi dele fiquei embaraçada pela luz em que me puseram. Chorei por duas semanas" e diz focar-se em fazer o que pode na sua própria espiritualidade para ter alegria, amor e felicidade. Numa declaração de há três dias revela estar feliz por partilhar uma foto num mundo tão empático e preocupado com a sua vida e diz-se lisonjeada.
Levanta-se a questão: será que Britney Spears ainda precisa de estar sob uma tutela hoje em dia? Um advogado que Britney tentou inicialmente contratar, Adam Streisand, revelou que a estrela pedira desde o início para o pai não estar envolvido na tutela, pedido que lhe foi negado Diz ainda que não lhe foi permitido olhar para os relatórios médicos e não pode falar daquilo que não sabe, mas questiona seriamente o porquê da tutela ainda estar em vigor. Afinal, desde o início da mesma que Britney tem trabalhado em múltiplos projetos sendo descrita como altamente funcional: quatro álbuns "Circus" (2008), "Femme fatale" (2011), "Britney Jean" (2013) e "Glory" (2016), duas turnês mundiais, foi juiz no programa The X Factor, lançou uma linha de lingerie Intimate Britney Spears" e fez uma residência de 248 espetáculos em Las Vegas "Britney: Piece of me", entre outros empreendimentos. 
A nível afetivo parece também ter encontrado estabilidade amorosa com o ator, modelo e personal trainer de origem iraniana Sam Asghari, com quem está num relacionamento desde 2016. Nos últimos tempos, Asghari têm-se mostrado revoltado com o pai de Spears "Não vou entrar em detalhes porque sempre respeitei a nossa privacidade mas ao mesmo tempo, não vim para este país para não ser capaz de expressar a minha opinião e liberdade", declarou.
Ainda antes da exibição deste documentário, Britney já tinha tomado alguns passos para retomar o controlo da sua vida. Em Novembro de 2020, o seu advogado Samuel Ingham III fez um pedido formal para remover o pai de Britney da tutela pessoal e instalar permanentemente Jodi Montgmery, de uma firma fiduciária. Em Fevereiro Britney somou uma pequena vitória ao ter a tutela financeira dividida: metade da sua fortuna continua com o pai da cantora e a outra metade passará a ser gerida por uma empresa independente de gestão de fundos fiduciários, Bessemer Trust, escolhida pela juíza Brenda Penny. Já este mês um novo passo animador: uma lei foi passada por unamidade para que as pessoas sob tutela tenham o direito de escolher a sua representação legal, o que no caso de Britney Spears se revela mais que justo, uma vez que é ela que paga a todos os advogados, de ambos, os lados do processo.
O caso da tutela continua em fase de audiências, com a próxima a ter lugar a 27 de Abril. 









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