She's beautiful when she's angry

Com o ressurgimento de uma nova vaga de feminismo, em que a palavra perde a conotação pejorativa para se referir tão somente à igualdade política, económica e social dos sexos, senti necessidade de aprofundar o meu conhecimento da história da segunda vaga de feminismo, que arrebatou os Estados Unidos da América de 1966 a 1971. "She´s beautiful when she's angry" é um documentário de 2014, disponível na Netflix e realizado por Mary Dore, que fala disso mesmo.
Começamos por ser relembradas da condição extremamente limitada das mulheres em meados do século XX, em que o casamento era a maior feito a que podiam aspirar, bem como a serem boas esposas, mães e donas de casa. 
O movimento feminista de intelectuais como Kate Millet virou do avesso esses pressupostos doutrinais, exigindo a libertação da mulher da sua condição de oprimida na sociedade. Uma mulher recebia muito menos que os homens pelo mesmo trabalho e via vedada a ascensão a cargos de poder e chefia (situação que infelizmente continua a acontecer hoje em dia). Com o movimento NOW (National Organization for Women), pedia-se que tal acabasse e houvesse justiça em várias frentes.
Mais conhecida pela sua facção radical, que queimava soutiens e cintas em praça pública, esta revolução feminista que foi capaz de mudar o mundo alicerçou-se essencialmente em encontros comunitários e no acesso à informação. Cursos sobre como funcionava o corpo feminino (o que muitas mulheres ignoravam por completo), sobre masturbação e orgasmo quebraram tabus e mostraram a união e necessidade de conhecer mais e de mudar o status quo e paradigmas vigentes. A expressão da condição feminina em todas as suas formas, desde poesia, prosa ou artigos no jornal é exaltada e é quase impossível não nos sentirmos inspiradas pela maneira como estas mulheres desafiaram as normas e lutaram pelos seus direitos. A juventude LGBT (lésbica, gay, bisexual, travesti ou transgénero) não é esquecida bem como os desafios específicos que as mulheres de cor enfrentavam e surgem ramificações do movimento com o mesmo intuito: a igualdade.
Foi graças ao activismo que conquistámos o direito de voto, a grande vitória da primeira vaga. O acesso aos contraceptivos é a outra conquista, notavelmente com a comercialização da pílula que permitiu a muitas mulheres evitarem gravidezes indesejadas.
O debate sobre os direitos reprodutivos é um agitador de consciências, com o tema do aborto a ser ainda bastante fracturante a nível. Os abortos ilegais praticados pela Jane (serviço de aborto da libertação das mulheres) mostraram a capacidade de inter-ajuda no contexto feminino e garantiram abortos com maior segurança do que até então eram praticados.
"She's beautiful when she's angry" tem como missão dar-nos conta dos progressos feitos e do muito que falta fazer, especialmente no planeamento familiar e assistência infantil.
À luz do debate sobre o abuso e assédio sexual, este documentário é mais pertinente e relevante do que nunca para todas as mulheres que querem conhecer o passado do movimento feminista e perceber como podem transformar o mundo num lugar para vivermos.



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