A rena que não gostava do Natal

Era uma vez uma rena chamada Simone que não gostava nada da quadra natalícia. Simone tinha fortes razões para isso. Era uma rena de olhos doces, de pelo castanho, esbelta e ladina mas já era de meia-idade e achava que estava a ficar velha para aquelas andanças. Eram muitos anos de stress e ansiedade junto de São Nicolau, o Pai Natal, no meio da fria Lapónia. Recebiam as imensas listas de presentes, eram atoladas de afazeres como ir buscar as prendas e responder às cartas dos meninos, pondo por fim o carimbo oficial do correio da casa do Pai Natal. 
Na noite do dia 24 de Dezembro, o trenó do Pai Natal era cheio até acima com as prendas para as crianças que se tinham portado bem ao longo do ano e Simone avançava, apesar da artrite nos membros e o desgaste no coração, acusar a idade que tinha. Fazia por parecer ligeira e prestável, mas na verdade era um sacrifício atravessar o mundo debaixo da neve e do frio a puxar um trenó sobrecarregado e o Pai Natal, que a cada ano parecia mais pesado e apressado também. 
Para além das maleitas de toda uma vida a trabalhar no Natal sem estar sindicalizada e receber um cumprimento que fosse pela sua destreza, Simone vivia um certo ressentimento e amargura. O seu irmão Rodolfo, a rena de nariz vermelho era muito popular e roubava todas as atenções e Simone, com o seu nariz em tons cor de laranja, ficava nas sombras, menosprezada. 
Todos estes factores contribuíam para que Simone detestasse o Natal que via como sinónimo de canseira, em trabalho constante e exploração laboral. A única coisa que a animava era que depois de percorrerem o mundo a distribuir presentes, o Pai Natal a deixava ficar em repouso absoluto até ao próximo ano. Ah, a doçura de não fazer nada, por fim!
Estávamos em mais uma noite de Consoada e a rena arrastava as patas junto dos seus semelhantes, meio indolente e contrariada.
_ Anima-te, mana! Porquê essa cara tão séria numa época tão bonita.? É tempo de festa! Vamos rir_ disse Rodolfo, a rena de nariz vermelho.
Simone revirou os olhos, considerando a alegria e entusiasmo do irmão mais novo, insuportável.
Começaram a viagem com o Pai Natal a entrar nas chaminés para deixar os presentes no sapatinho e debaixo da árvore de Natal. Simone estava impaciente para que tudo aquilo acabasse. Então, uma borboleta mágica apareceu no ar e sussurrou-lhe ao ouvido.
_ Vou dar-te o poder de seres invisível esta noite. Atravessa aquela parede e pernoita nesta casa. Estás velha e cansada, já não tens idade para isso.
Como consequência, Simone separou-se das restantes renas e atravessou a parede da casa. O Pai Natal encontrava-se lá ainda, a beber leite e a comer bolachas de chocolate que a criança que lá vivia tinha deixado para ele.
_ Não admira que esteja tão gordo!_ resmungou a rena Simone, ainda mal humorada.
Surpresa por o Pai Natal não a conseguir ver, aninhou-se junto da árvore de Natal, muito bonita e de luzes brilhantes, daquela família desconhecida.
De manhã, ao raiar do sol, uns pezinhos de lã ouviram-se a descer a escada em caracol. Era Sheila, a criança de sete anos, que tinha deixado o leite e as bolachas ao Pai Natal. Sheila era uma menina muito bondosa mas pobre que pelo Natal tinha pedido ao Pai Natal apenas um presente.
Ao ver o embrulho debaixo da árvore, Sheila gritou extasiada e pulou, correndo para o ir abrir. O pai e a mãe desceram ao ouvir o ruído da filha.
Sheila rasgou o embrulho, colorido e muito belo e os olhos abriram-se com a luz especial de quem acaba de ver um sonho realizado.
_ Uma boneca!_ sorriu_ É tão linda!
Era a primeira boneca da vida de Sheila, de olhos verdes e cabelos castanhos aos caracóis e pele morena. Ela nunca a iria esquecer, estimando muito aquele presente.
_ Obrigada, Pai Natal!_ exclamou a pequena Sheila, olhando para a janela, abraçada aos pais.
A rena Simone que a tudo assistia foi contagiada pela felicidade de Sheila ao ver a boneca. O espírito natalício tocou-lhe finalmente no coração. Juntamente com os seus semelhantes, Simone contribuía para fazer a diferença no Natal de muitos milhões de crianças, fazendo-as sorrir e vibrar de emoção ao serem contempladas com os seus presentes. Assim, a vida por vezes extremamente esforçada de Simone, tinha um sentido e propósito importantes. Ia continuar a dar de si sem esperar recompensa porque ver o sorriso aberto daquela criança já fora recompensa suficiente.
Simone levantou-se, atravessou a parede e correu durante horas para se juntar às outras renas que ficaram contentes e aliviadas por tornar a vê-la.
_ Bem-vinda de volta, comadre. Pensávamos que a tínhamos perdido para sempre.
_ Onde estiveste Simone?_ perguntou Rodolfo.
_ Por aí. A ver a realidade_ respondeu Simone, com um sorriso enigmático.
Ninguém lhe fez mais perguntas. A rena Simone reassumiu o seu lugar na manada e passou uma quadra natalícia muito feliz e gratificante. A partir daí, começou a esperar com ansiedade que o mês de Dezembro chegasse pois do fundo do seu coração, passou a adorar o Natal.




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