Empoderamento feminino: a igualdade como ideal

Lutámos pelo direito de voto e conseguimos. Lutámos pela liberdade de expressão e fez-se o 25 de Abril. Mas, ainda estamos longe de romper com todas as barreiras e preconceitos. A figura da mulher ainda se encontra muito polarizada, situando-se num lugar indefinido entre o bem e o mal, a besta e o anjo. Por mais que tenhamos acesso às mesmas ferramentas que os homens ainda persiste o machismo e ideias pré-concebidas como de que a beleza é incapaz de produzir também inteligência e a desvalorização constante das mulheres consideradas poderosas na hasta pública. Ainda continuamos a ser avaliadas e escrutinadas de forma mais severa que os homens.
A nossa identidade como mulheres está relacionada com a nossa identidade coletiva, com o sentimento de ser do nosso país. Confesso que sempre fui idealista (não é por acaso que o meu blog se chama Quimera Insular) e considero que nunca recuperámos completamente da ilusão do Quinto Império defendida pelo Padre António Vieira, uma esfera elevada e complexa de poder português que seria universal. De igual forma, quando D. Sebastião pereceu em Alcácer Quibir a nação nunca se recompôs completamente e muitos acreditavam que ele ia regressar numa manhã de nevoeiro. Particularmente nós, mulheres, enquanto movimento e palavra, ainda vivemos nesse nevoeiro. Como escreveu o filósofo José Gil, este é “um branco psíquico inconsciente esfarelando, fragmentando a consciência em mil bocados, cada um deles, no entanto, plenamente consciente no seu corpo próprio”. Isto é consequência de uma longa tradição de silêncio e repressão em que a mulher que exprime as suas emoções intensamente é considerada fraca e histérica, os seus pensamentos relegados para segundo plano porque os do homem têm de ser à partida superiores. É contra isso que devemos protestar, temos o direito de recuperar a nossa voz mesmo que não seja bem aceite. Temos o direito de viver em função dos nossos interesses, amores e desejos e não em função do que a sociedade espera de nós.
É tempo de nos emanciparmos interiormente e não ceder a pressão de querer ter tudo ou sermos perfeitas. É tempo de lutar pela igualdade que ainda se revela na disparidade de salários e na escassez de mulheres em posições de topo na sociedade. É tempo de dizermos não à escravatura mental e abraçarmos a nossa condição feminina que pode ter erros ocasionais mas é bela e deve ser vivida com uma sensação de confiança, de alegria e, na medida do possível, empoderamento.

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