Competição: um dos paradigmas da sociedade

As aulas estão quase a recomeçar. É tempo de fazer balanços na educação escolar mas também de olhar em frente, com a esperança e optimismo possíveis. Há quem defenda que é a escola que deve educar a criança, mas se não for a família a incutir desde o berço os principais valores e padrões de comportamento a entidade a que chamamos de escola tem sérias limitações para fazer ouvir a sua voz. Aprender é o seu lema, é dentro das quatro paredes desta instituição que a criança passa a maior parte do seu tempo, nos livros pode fazer todo o tipo de descobertas e no entanto, cada vez mais é difícil responder a tantas solicitações, captar a atenção que se dispersa, criar vida no que por vezes parece obsoleto.
É na escola que começamos a aprender que temos de ser bons o suficiente, que se queremos sobreviver temos de competir, caso contrário, somos como um animal que se perdeu da manada, ficou para trás e será provavelmente pisado ou comido por um animal maior ou mais astuto do que ele. A realidade é com frequência amarga mas não deixa de existir. Pisados. É como nos sentimos muitas vezes quando estamos desempregados. Cada oportunidade dá luz aos nossos olhos e cada "não" é uma nova humilhação. Começamos a pensar que talvez estejamos a perder o nosso tempo e com o avançar dos dias, ou entramos em ansiedade crescente ou fingimos que está tudo bem e deixamos de nos preocupar. Mas o desequilibro está latente em nós.
Num mundo idílico todos teriam o seu lugar e só precisariam de competir consigo próprios, de fazer o seu melhor a cada dia. Preocupa-me o que, com o nosso exemplo possamos estar a ensinar às nossas crianças. Que a quantidade de um programa curricular é mais importante do que a qualidade do ensino, por exemplo. Que a dissimulação e os resultados finais são mais importantes que o esforço e a nobreza da tentativa na medida em que os fins sempre justificam os meios. Preocupa-me que num boom tecnológico de iphones, ipads e outras coisas terminadas em i que os meus sobrinhos não formem uma personalidade forte ou não se tornem bons leitores. Que as pessoas deixem atrofiar a sua inteligência, de ser líderes de si mesmos para ser meros peões no jogo de outra pessoa.
O que queremos mais do que qualquer outra coisa? Será que o culto ao materialismo justifica o ritmo incessante, o sufoco do dia-a-dia, a tão falada falta de tempo e de liberdade no geral?
Um dos paradigmas da nossa sociedade para além da competição é a eficácia. Afinal dos fracos não reza a história certo? Todavia, o que nos torna únicos dos demais são exactamente essas tão temidas falhas ou defeitos. É neles que reside o que nos torna interessantes porque na verdade as imperfeições são o que de mais humano há em nós. Seria pois uma boa ideia deixarmos de lado o culto da perfeição e olharmos com mais atenção para quem está à nossa volta, não no sentido de competir mas de sermos empáticos e praticar a auto-ajuda. Em linhas simples, somos animais gregários e é caminhando juntos que chegamos mais longe. Repensar o modelo escolar, os padrões de conduta e aquilo que ensinamos às nossas crianças desde tenra idade é importante para que não se sintam desencorajadas pela crise económica, pelo desemprego, pelo desânimo geral ou pelo que for. Para que ainda acreditem que podem ser o que quiserem e que tudo é possível. Para que não se separem e espartilhem mas sim comuniquem e se unam porque quando há partilha abrem-se as portas às realizações mais grandiosas; pode-se construir um futuro maravilhoso. 

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