A teoria da complexidade e a integração pessoal num todo

Toda a minha vida foi construída sob o medo das adversativas "Ou sou isto ou aquilo", do "se faço x nunca poderei fazer y". Sempre quis ter uma visão integral e abrangente das coisas, não me limitar a um só ramo do conhecimento mas com isso arrisco não me especializar verdadeiramente em algo. A escrita é a única arte em que sinto que ganhei raízes, desde pequena que foi como o meu segundo lar, onde me sentia protegida, confortável e livre, em suma, no meu elemento. Libertar tensões, exorcizar demónios e espantar fantasmas, tudo ela me permitiu e continua a permitir. Mas o mundo é muito grande e eu sou apenas uma só, de dimensões reduzidas, ínfimas até. Por quanto tempo vou eu sentir que sou apenas uma versão fragmentada de mim mesma?
O filósofo, antropólogo e sociólogo francês Edgar Morin criou a teoria da complexidade que defende estudos inter-poli-transdiciplinares, que combatem o reducionismo e postulam a interligação dos saberes. "Afinal, de que serviriam todos os saberes parciais senão para formar uma configuração que responda às nossas expectativas, aos nossos desejos, nossas interrogações cognitivas?", interroga-se Morin. De facto, podemos aprender muito se não espartilharmos as ciências, se as combinarmos num cozinhado que pode ser bem enriquecedor e interessante. 
Como fazer para nos sentirmos inteiros? Temos um ponto a atingir na nossa vida que exige dedicação, um tempo em que o esforço será maior que os resultados. Há fricções, dificuldades. Mas é preciso ultrapassar essa fase árida para chegarmos àquela em que tudo simplesmente flui, os objectivos se alcançam e nos aproximamos cada vez mais dos pontos a atingir.
No cerne de tudo está a busca da felicidade. Segundo Edgar Morin "Não se pode sonhar com uma felicidade contínua para a humanidade. É impossível porque a felicidade, repito, depende de uma soma de condições. Então, por outro lado, o que se pode dizer, pode-se tentar tudo o que permita a casa um viver poeticamente a sua vida e se viver poeticamente encontrará momentos de felicidade, momentos de êxtase, momento de alegria e, na minha opinião é isso".
Precisamos de procurar aquilo que é poesia, sinfonia, arte maior. Precisamos de simplificar mas simultaneamente (e por mais paradoxal que possa parecer) não ter medo do que é complexo e não dominamos bem. Temos de pensar no inóspito e desconhecido como terrenos incultos prontos a serem tornados férteis. Ser feliz é procurar ultrapassar um estado que naturalmente é fugaz e frágil e transformá-lo num modo do ser. E, ao fazê-lo saber que não estamos sozinhos e somos parte de uma comunidade, que nos integramos num todo que é um projecto comum, a vida da Humanidade.


Por David.Monniaux - Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=4833218

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