A idade decisiva


Meg Jay é uma psicóloga doutorada norte-americana que no seu livro "A idade decisiva" fala sobre o delicado e interessante período de tempo que vai dos vinte aos trinta anos. Especialista na área e a partir da sua experiência clínica com uma vasta gama de jovens, Jay defende que os vinte e poucos é uma fase privilegiada e importantíssima de desenvolvimento humano, que deve ser reivindicada como tal. 
Na opinião desta psicóloga clínica, os trinta não são os novos vinte e é nesta última década que se começam assentar as pedras que servirão como pilares para o futuro no que se refere ao trabalho, amor, personalidade, entre outros.
Em termos neurológicos, o lobo frontal do cérebro é o último dos seus constituintes a assumir a sua forma definitiva no processo de mielinização, o que acontece entre os vinte e os trinta anos e nos mostra que esta idade de entrada na vida adulta favorece particularmente novas aprendizagens. No entanto, o cérebro não deixa de ser dotado de plasticidade e consegue até compensar algumas lesões em partes específicas. Temos o caso célebre de Phineas Gage, que num acidente com explosivos teve o seu lobo frontal perfurado por uma barra de metal e após esse facto mostrou uma mudança acentuada de comportamento, tornando-se insensato e até irresponsável. Todavia, nos últimos anos da sua vida Gage foi capaz de voltar a ter uma vida discreta e disciplinada trabalhando como cocheiro, um fenómeno chamado de recuperação social.
A década que vai dos vinte aos trinta anos é pois um período crítico e sensível cujas consequências se farão sentir na etapa de vida seguinte. É  a altura ideal para explorar o que Meg Jay chama de capital de identidade: a colecção de bens pessoais, de recursos que acumulamos com o tempo e experiência, investimentos em nós mesmos, coisas que fazemos bem e se tornam parte integrante de quem somos. Também necessitamos de desenvolver mais o pensamento prospectivo, a capacidade de antecipar e planear cenários futuros.
Na sociedade actual desempenhamos papeis complexos e múltiplos que nos tornam indivíduos mais ricos. Jay pede-nos para usar a técnica de pé na porta e procurar fortalecer os vínculos fracos, aqueles com pessoas mais distantes e até que nunca conhecemos pessoalmente e acredita que quem nos faz um favor uma vez estará disposto a repeti-lo novamente. Para chegar a esta conclusão, Jay baseia-se nos modelos de desenvolvimento de Erickson em que a ajuda é importante para a afirmação do ego.
Jay acredita que há um certo darwinismo no funcionamento do cérebro, apelidado de sobrevivência do mais ocupado, sendo que temos tendência para guardar memórias mais vividas daquilo a que dedicamos mais tempos. É nossa função estimular o efeito positividade do cérebro ao focar-nos naquilo que nos traz alegria e saber descartar preocupações inúteis. O psiquiatra e sobrevivente do Holocausto Viktor Frankl refere-se as acções e reacções como liberdades humanas essenciais.
Devemos cultivar uma mentalidade expansiva, centrada em conviver e avançar, ultrapassando os atritos naturais na nossa vida adulta emergente. Há alguma tendência para acreditar na prevalência do talento sob o esforço mas ambos os componentes são necessários para ser bem-sucedido, falando-se até que é preciso 10 mil horas de prática para dominar uma área específica. 
Para Freud, amor e trabalho são as bases da Humanidade. Leonard Bernstein considera que para atingir grandes coisas precisamos de ter um plano e pouco tempo. Para começar a aliviar a pressão que se adensa aos trinta anos, Meg Jay considera que não devemos roubar os jovens de vinte e poucos anos do seu sentido de urgência e ambição e reduzir aquela exploração que é suposto não contar, o que no seu entender é apenas procrastinação.
A melhor maneira segundo a psicóloga de ultrapassar uma crise de identidade é fazer coisas que agreguem valor aquilo que a pessoa é, considerar que as melhor coisas vêm dos nossos laços frágeis e por último, ter em conta que o tempo para escolher a nossa família é agora, aplicando a mesma intencionalidade no amor à que se tem no trabalho. "A melhor altura para trabalhar num casamento é antes de se ter um" afirma Meg. Para ela, não se pode adiar começar a viver plenamente para os trinta e deve-se aproveitar todo o potencial transformador de ter 21, 25 ou mesmo 29 anos.
Meg Jay alerta ainda que a fertilidade nas mulheres atinge o seu pico aos 28 anos e começa a diminuir a partir de então, sendo que nem todas as mulheres na década seguinte conseguem engravidar. Para a especialista, os casos retratos pelos media de mulheres que foram mães mais tarde podem ser enganosos e levar as jovens a reger-se por uma heuristica de disponibilidade (predizer a frequência de um evento consoante a facilidade de conseguirem lembrar-se de um exemplo). 
Temos tendência a favorecer o momento presente e nem sempre sabemos o que realmente precisamos. Traços de personalidade como abertura, extroversão ou neuroticismo podem dar-nos pistas sobre o tipo de relacionamentos e carreira que queremos para o futuro mas nada oferece garantias, sendo que as pessoas neuróticas apresentam mais dificuldades em estabelecer relacionamentos estáveis e duradouros. 
Meg Jay considera que devemos libertar-nos da chamada "tirania dos deverias" (deveria ter feito isto ou aquilo) e da busca de glória para nos vermos como um bicicleta feita por medida, personalizada, ou seja, não predefinida, com cada uma das peças integrantes juntas tais como as partes do nosso eu. "Não seja definido pelo que não sabia ou pelo que não fez. Está a decidir a sua vida agora mesmo", conclui.

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