Natalie Portman revela correspondência com Jonathan Safran Foer
Correspondentes de longa data, a actriz vencedora de um Óscar por "Cisne negro" Natalie Portman e o autor Jonathan Safran Foer (de livros como "Everything is illuminated", "Extremely loud and incredibly close" e "Eating animals", viram o seu arquivo de emails desaparecer o que os levou a recomeçar de novo, reflectindo sobre como mudaram ao longo do tempo e sobre o papel da família, criatividade, religião, política e arte, partilhando alguma desta correspondência para o New York Times.
Jonathan Safran Froer começa por dizer que perdeu todos os emails que tinha na sua conta de hotmail, incluindo os que testemunham a sua amizade de 15 anos com Natalie Portman, Refere-se à estreia desta na realização como ser "mais explicitamente acerca de um rapaz a crescer em Jerusalém, nos últimos anos do Mandato Britânico. É tanto sobre mães e filhos, esposas e maridos, sonhos, depressão, como sobre o judaísmo e a própria linguagem".
Natalie revela-se satisfeita pelo seu lado da correspondência ter desaparecido no abismo digital "Tenho a certeza que no início da nossa troca de emails estava a esforçar-me demasiado para ser inteligente e interessante".
O escritor elogia o filme da amiga afirmando "Há tantas coisas que eu amo no filme- como é simultaneamente preciso e impressionista, como é visualmente e verbalmente belo- mas mais do que qualquer coisa, eu fiquei tocado como a forma como te parecias importar com ele. Esta não é a observação de um amigo. A arte que me apaixona mais sempre demonstra a paixão do seu criador. A liberdade pode não ser um pré-requisito para a expressão da paixão- ajuda, às vezes, não ser capaz de seguir os seus instintos- mas estes estão fortemente interligados. O que pensas da liberdade? Quando é que desejas mais fortemente que tivesses mais dela? Quando é que desejas mais fortemente ter menos?"
Natalie responde que em muitos aspectos, adaptar a obra biográfica de Oz foi uma escolha óbvia para o seu primeiro filme. "A história da família de Oz no despontar do estado de Israel é notavelmente próxima de todas as histórias que ouvi crescendo sobre a família do meu pai: a idolatria a tudo que era europeu, refugiados confrontados com o deserto, a atmosfera de violência constante, os debates políticos, a obsessão com livros e com contar histórias e a linguagem, a noção de ser mulher num amálgama religioso/militar/socialista, a fantasia obscura de criar uma comunidade utópica em que todos os pais tivessem sido mortos, a mitologia do pioneiro e do novo homem israelita. Estes temas são infinitamente interessantes para mim, assim como a questão de quanto da mitologia é uma reflexão fidedigna da história e quanto é o contar de histórias cimentado pela repetição". Natalie refere que muitas coisas podem ser verdade ao mesmo tempo, como Jonathan Safran Foer escreve no seu romance "Here I am" e reflecte "Por ter vivido primariamente fora de Israel- ouvindo, lendo e pensando sobre a cidade à distância- é o lugar que mais imaginei na vida. Um filme em hebreu, uma obra de época em que também actuo não foi claramente o filme mais fácil de ser feito. Mas, era o filme que eu tinha de fazer".
Jonathan Safran Foer fala de muitos dos rituais em torno dos quais a vida diária se organiza, criados para dar um sentido de propósito de lhe acrescentar deliberação e significado e pergunta "Deve ser terrivelmente difícil estabelecer rituais na tua vida (filmar à noite às 3:30 da manhã). Eu sei que não tens um "dia típico" mas o que tentaste ritualizar na tua vida de trabalho e de casa?".
Natalie Portman responde "Estou com uma falta preocupante de rituais na minha vida, o que é das coisas mais difíceis e melhores do meu trabalho. Nunca terei a monotonia e repetição de um escritório. Mas cada trabalho me leva a um novo lugar com um novo horário que requer a reinvenção do ritual todas as vezes, ainda mais com família. De cada vez que vamos para um local de filmagens tenho de ver onde viver, que actividades estão disponíveis para o meu filho, onde e quando vamos viajar para a nossa casa. Aprendes o quão profundamente os rituais são enraizadores quando os perdes. Quando não estou a trabalhar eu vivo praticamente de forma exclusiva para a minha família por isso os meus rituais estão relacionados com escola, preparação de refeições, encontros para brincar, hora de ir para a cama. Os fins de semana são os melhores para os rituais porque são completamente meus. Faço toda a lavandaria da semana, o que adoro porque é uma tarefa com um começo claro e com um fim. Depois passamos o fim-de-semana juntos como família- usualmente nalgum lugar na natureza, muitas vezes com amigos que têm crianças. Muitos cozinhados. Gosto mais dos fins-de-semana quando estou a trabalhar porque aí sinto verdadeiramente que estou a regenerar energia, enquanto que quando não estou a trabalhar o tempo se mistura numa corrente contínua e indiferenciada".
Jonathan Safran Foer inquere Natalie sobre sítios em que sente algo diferente, no ar e na terra.
A actriz responde "Sabes, a palavra hebreu (ivri, na nacionalidade como Abrãao, o hebreu) vem da raíz de atravessar- la'avor. Penso que está relacionado aos judeus serem pessoas nómadas ou talvez Abraão ser o primeiro a atravessar um rio na Biblía? Mas parece ser um estado emblemático do nosso povo ou talvez de todos os povos- que estamos sempre no meio de substituir um desejo atingido como um novo desejo, aceitando um novo pedaço de conhecimento com uma nova questão. Quando encontrei pela primeira vez o budismo nos meus vintes, fiquei tão confusa. É suposto contentar-me com o que está a acontecer aqui e agora? Percebi o quanto o judaísmo para mim estava ligado à ânsia- querer o que eu não tenho- o que talvez seja a razão pela qual Israel é tão complicado emocionalmente para os judeus: está construído na estrutura emocional da nossa religião ansiar por uma terra natal que não temos". Natalie continua dizendo que talvez Jerusalém é uma ideia nunca tangível, de forma que se continua a desejá-la como um esposo que desejas eternamente. "Jerusalém tem uma aura. O ar parece mais espesso lá. Parece que a cidade em si é manipuladora, levantando paixões". A actriz prossegue apontando uma tendência cultural para a tristeza inserida no romantismo eslávico melancólico "Tenho o mesmo sentido dos anos 90, que é uma beleza lá culturalmente associada com a tristeza. Foi um tipo de revelação para mim reconhecer, através do livro de Oz que o humor pode ser influenciado por quando e onde vives e os sentimentos dessa época e lugar sobre sentimentos. Porque adaptei o livro durante quase uma década (não consistentemente, pegava nele e depois deixava-o durante uns poucos de anos antes de pegar nele novamente), esta foi uma conexão tardia. A minha primeira conexão com o livro de Oz foi a etimologia. Para mim, mais do que a religião ou o país ou a comida, a linguagem hebraica é o centro do nosso engajamento com a cultura. Encontrar o elo etimológico entre as palavras dá uma sensação de desbloquear poesia de milhares de anos- alinhando com almas de humanos através do tempo. A maneira como Oz traça estas genealogias linguísticas pára-me a respiração: earth (adama), homem (adam), sangue (dam), vermelho (adom), silêncio (doomia). A etimologia pode parecer árida mas as conexões entre as palavras parecem-se para mim com a conexão que eu senti quando dei à luz- que eu estava relacionada com toda a mulher que deu à luz através do tempo. Acho que é uma experiência que te dá uma sensação de maravilha, para usar as tuas palavras, que sentimos então que podemos partilhar com as pessoas- não apenas pessoas ao teu redor ou pessoas expostas às mesmas coisas a que estás exposto mas pessoas no deserto olhando para versões ligeiramente mais novas das mesmas estrelas enquanto pastam as ovelhas e acreditando que os relâmpagos são a ira de Deus. Hora de tirar o meu rapaz do banho onde o Batman Lego está alternadamente a combater dinossauros e a dar um concerto".
Jonathan Safran Foer responde "O meu primeiro livro saiu quando eu era novo mas tu tens sido uma actriz profissional pelo que parece ter sido a tua vida inteira. Como é que isso influenciou o teu sentido de passagem de tempo? (A maioria das pessoas vê marcos à frente delas e trabalha para os atingir. Tu tiveste tanto a acontecer ao mesmo tempo.) Há algum sentido em que escrever e realizar serem meios de sentires que estares a começar novamente? E, não para acumular questões mas "A tale of love and darkness" é sobre um jovem rapaz crescendo num país jovem que está ele próprio a crescer. Ao mesmo tempo, o rapaz é claramente uma alma muito velha e o jovem país tem mais de 5 000 anos de idade. Mais, tu interpretas uma mulher que nunca tem a sua idade cronológica- às vezes demasiado cheia de espanto de criança para ser adulta, às vezes prematuramente velha, às vezes quase bíblica. O que, se alguma coisa, contribuíram as tuas experiências com o tempo- crescendo e enquanto mulher- contribuíram para a tua visão do tempo no filme?".
Natalie responde "Continuo a pensar no que tiveste a dizer, algumas cartas atrás, sobre liberdade. É estranho ter uma arte que é largamente um instinto. As pessoas contraporiam que há muita técnica a aprender, mas todos conhecemos actores que amamos que nunca estudaram e actores que nos enlouquecem com tanta técnica. A representação não é como música ou dança ou desenho onde há uma técnica clara que precisas de trabalhar obsessivamente para dominar e depois que a tua individualidade te faz mais do que um computador que aprendeu uma competência. Tu basicamente estás a tentar não ser auto-consciente e usar a tua imaginação e perderes-te. Claro que há técnicas que te ajudam a fazer essas coisas mas muitas vezes pensar sobre as coisas atravessa-se no caminho. Por isso procurar por liberdade pode derrotar-te. Mas é um desafio que amo e estou excitada quando eu tenho um raro momento em que a supero. E sim, suponho que escolher realizar agora é um sintoma de ter já uma longa carreira aos 35 (tenho trabalhado desde a idade de 11 anos, durante mais tempo do que muitos dos meus colegas nos seus cinquentas). Querer realizar é como estávamos a falar antes- sobre transição, passagem e substituir desejos antigos com recentes. O que sempre procuro no meu trabalho são novos desafios- coisas que não tenho a certeza se sei fazer. E muitas vezes não as consigo fazer e falho. Mas é isso que me mantém interessada e nada oferece mais conhecimento e auto-conhecimento como o fracasso. E sim, posso-me tornar uma jovem realizadora enquanto me torno numa actriz mais antiga. Gosto de como descreves o filme- o amadurecimento de um rapaz e de um país, nenhum dos quais com a idade que parecem ter. Acho que ser mãe fez-me compreender o quão maternal o papel de realizador é. Tornou-me muito mais calma sobre stress, porque isso é a coisa estranha parental que desenvolves, que quando as coisas se tornam muito más, a tua voz fica calma e a tua pressão arterial baixa e fazes tudo ficar bem novamente. E as coisas ficam más e stressantes facilmente nos filmes. Além disso, olhas para as pessoas com que trabalhas e pensas: como posso tratá-las e o que posso dizer-lhes para que possam fazer o seu melhor trabalho? Porque é isso que realizar é- falar com as pessoas de uma maneira que possa desbloquear o seu potencial. Claro, com a realização o objectivo é ajudá-los a atingir a tua visão. Com a maternidade, o propósito é o teu filho atingir a sua. Mas, é uma competência semelhante. A actriz termina o email reflectindo como o tempo passa exponencialmente rápido quando se tem um filho, o que é terrível para ela "É por isso que o Shabbat é uma ideia tão adorável que estou a tentar reavivar na minha vida. Amo a coisa do Erich Fromm sobre o Shabbat ser da habilidade de suspender o tempo. A razão pela qual não somos autorizados a mudar um livro de um lugar para o outro no Shabbat ou ligar uma luz ou comprar algo- não é porque é trabalho e o trabalho não é permitido no Shabbat. É porque estas coisas mostram a passagem do tempo. E o Shabbat é o único dia que podemos parar o tempo. Ok, tenho de ir dormir apesar de haver música alta do Harry Potter a tocar na casa".
Jonathan Safran Foer contrapõe "Nem mesmo o Shabbat pode parar o relógio- dois moveram-se do futuro para o passado no curso de ter esta troca- mas vez em quando a máquina do tempo avariada que é o Hotmail tosse a si própria para a vida. Não me dei ao trabalho de mencionar, porque parecia infrutífero mas enquanto me correspondia contigo, também me tenho correspondido com o que penso ser um robot no Hotmail. E embora a maior parte do que se perdeu continuará perdido, consegui desenterrar algumas coisas, incluindo o email que começou a nossa amizade, este tempo todo atrás em 2002".
No dia 7 de Junho de 2002 Natalie Portman tinha escrito "Jonathan, foi tão bom conhecer-te depois da leitura no outro dia. Adorei o que disseste acerca da última linha do livro acabar no meio de uma frase, que era um diálogo com o leitor e o que o leitor preenche completando o livro. Lembrou-me daquela coisa do Walter Murch sobre filme digital: nunca será tão emocional como filme-filme porque não tem o negro entre as cenas. Com um filme normal (como provavelmente sabes) entre cada cena há uma cena em negro que pisca durante uma fracção de segundo e os olhos do espectador preenchem com imagem num acto reflexo. Por isso o espectador está de estar engajado de uma maneira que não tem de estar se todo o aspecto visual lhe for disponibilizado. É o nosso engajamento no processo, a nossa ajuda na criação da obra que nos faz sentir a história".
A actriz responde "Sabes, a palavra hebreu (ivri, na nacionalidade como Abrãao, o hebreu) vem da raíz de atravessar- la'avor. Penso que está relacionado aos judeus serem pessoas nómadas ou talvez Abraão ser o primeiro a atravessar um rio na Biblía? Mas parece ser um estado emblemático do nosso povo ou talvez de todos os povos- que estamos sempre no meio de substituir um desejo atingido como um novo desejo, aceitando um novo pedaço de conhecimento com uma nova questão. Quando encontrei pela primeira vez o budismo nos meus vintes, fiquei tão confusa. É suposto contentar-me com o que está a acontecer aqui e agora? Percebi o quanto o judaísmo para mim estava ligado à ânsia- querer o que eu não tenho- o que talvez seja a razão pela qual Israel é tão complicado emocionalmente para os judeus: está construído na estrutura emocional da nossa religião ansiar por uma terra natal que não temos". Natalie continua dizendo que talvez Jerusalém é uma ideia nunca tangível, de forma que se continua a desejá-la como um esposo que desejas eternamente. "Jerusalém tem uma aura. O ar parece mais espesso lá. Parece que a cidade em si é manipuladora, levantando paixões". A actriz prossegue apontando uma tendência cultural para a tristeza inserida no romantismo eslávico melancólico "Tenho o mesmo sentido dos anos 90, que é uma beleza lá culturalmente associada com a tristeza. Foi um tipo de revelação para mim reconhecer, através do livro de Oz que o humor pode ser influenciado por quando e onde vives e os sentimentos dessa época e lugar sobre sentimentos. Porque adaptei o livro durante quase uma década (não consistentemente, pegava nele e depois deixava-o durante uns poucos de anos antes de pegar nele novamente), esta foi uma conexão tardia. A minha primeira conexão com o livro de Oz foi a etimologia. Para mim, mais do que a religião ou o país ou a comida, a linguagem hebraica é o centro do nosso engajamento com a cultura. Encontrar o elo etimológico entre as palavras dá uma sensação de desbloquear poesia de milhares de anos- alinhando com almas de humanos através do tempo. A maneira como Oz traça estas genealogias linguísticas pára-me a respiração: earth (adama), homem (adam), sangue (dam), vermelho (adom), silêncio (doomia). A etimologia pode parecer árida mas as conexões entre as palavras parecem-se para mim com a conexão que eu senti quando dei à luz- que eu estava relacionada com toda a mulher que deu à luz através do tempo. Acho que é uma experiência que te dá uma sensação de maravilha, para usar as tuas palavras, que sentimos então que podemos partilhar com as pessoas- não apenas pessoas ao teu redor ou pessoas expostas às mesmas coisas a que estás exposto mas pessoas no deserto olhando para versões ligeiramente mais novas das mesmas estrelas enquanto pastam as ovelhas e acreditando que os relâmpagos são a ira de Deus. Hora de tirar o meu rapaz do banho onde o Batman Lego está alternadamente a combater dinossauros e a dar um concerto".
Jonathan Safran Foer responde "O meu primeiro livro saiu quando eu era novo mas tu tens sido uma actriz profissional pelo que parece ter sido a tua vida inteira. Como é que isso influenciou o teu sentido de passagem de tempo? (A maioria das pessoas vê marcos à frente delas e trabalha para os atingir. Tu tiveste tanto a acontecer ao mesmo tempo.) Há algum sentido em que escrever e realizar serem meios de sentires que estares a começar novamente? E, não para acumular questões mas "A tale of love and darkness" é sobre um jovem rapaz crescendo num país jovem que está ele próprio a crescer. Ao mesmo tempo, o rapaz é claramente uma alma muito velha e o jovem país tem mais de 5 000 anos de idade. Mais, tu interpretas uma mulher que nunca tem a sua idade cronológica- às vezes demasiado cheia de espanto de criança para ser adulta, às vezes prematuramente velha, às vezes quase bíblica. O que, se alguma coisa, contribuíram as tuas experiências com o tempo- crescendo e enquanto mulher- contribuíram para a tua visão do tempo no filme?".
Natalie responde "Continuo a pensar no que tiveste a dizer, algumas cartas atrás, sobre liberdade. É estranho ter uma arte que é largamente um instinto. As pessoas contraporiam que há muita técnica a aprender, mas todos conhecemos actores que amamos que nunca estudaram e actores que nos enlouquecem com tanta técnica. A representação não é como música ou dança ou desenho onde há uma técnica clara que precisas de trabalhar obsessivamente para dominar e depois que a tua individualidade te faz mais do que um computador que aprendeu uma competência. Tu basicamente estás a tentar não ser auto-consciente e usar a tua imaginação e perderes-te. Claro que há técnicas que te ajudam a fazer essas coisas mas muitas vezes pensar sobre as coisas atravessa-se no caminho. Por isso procurar por liberdade pode derrotar-te. Mas é um desafio que amo e estou excitada quando eu tenho um raro momento em que a supero. E sim, suponho que escolher realizar agora é um sintoma de ter já uma longa carreira aos 35 (tenho trabalhado desde a idade de 11 anos, durante mais tempo do que muitos dos meus colegas nos seus cinquentas). Querer realizar é como estávamos a falar antes- sobre transição, passagem e substituir desejos antigos com recentes. O que sempre procuro no meu trabalho são novos desafios- coisas que não tenho a certeza se sei fazer. E muitas vezes não as consigo fazer e falho. Mas é isso que me mantém interessada e nada oferece mais conhecimento e auto-conhecimento como o fracasso. E sim, posso-me tornar uma jovem realizadora enquanto me torno numa actriz mais antiga. Gosto de como descreves o filme- o amadurecimento de um rapaz e de um país, nenhum dos quais com a idade que parecem ter. Acho que ser mãe fez-me compreender o quão maternal o papel de realizador é. Tornou-me muito mais calma sobre stress, porque isso é a coisa estranha parental que desenvolves, que quando as coisas se tornam muito más, a tua voz fica calma e a tua pressão arterial baixa e fazes tudo ficar bem novamente. E as coisas ficam más e stressantes facilmente nos filmes. Além disso, olhas para as pessoas com que trabalhas e pensas: como posso tratá-las e o que posso dizer-lhes para que possam fazer o seu melhor trabalho? Porque é isso que realizar é- falar com as pessoas de uma maneira que possa desbloquear o seu potencial. Claro, com a realização o objectivo é ajudá-los a atingir a tua visão. Com a maternidade, o propósito é o teu filho atingir a sua. Mas, é uma competência semelhante. A actriz termina o email reflectindo como o tempo passa exponencialmente rápido quando se tem um filho, o que é terrível para ela "É por isso que o Shabbat é uma ideia tão adorável que estou a tentar reavivar na minha vida. Amo a coisa do Erich Fromm sobre o Shabbat ser da habilidade de suspender o tempo. A razão pela qual não somos autorizados a mudar um livro de um lugar para o outro no Shabbat ou ligar uma luz ou comprar algo- não é porque é trabalho e o trabalho não é permitido no Shabbat. É porque estas coisas mostram a passagem do tempo. E o Shabbat é o único dia que podemos parar o tempo. Ok, tenho de ir dormir apesar de haver música alta do Harry Potter a tocar na casa".
Jonathan Safran Foer contrapõe "Nem mesmo o Shabbat pode parar o relógio- dois moveram-se do futuro para o passado no curso de ter esta troca- mas vez em quando a máquina do tempo avariada que é o Hotmail tosse a si própria para a vida. Não me dei ao trabalho de mencionar, porque parecia infrutífero mas enquanto me correspondia contigo, também me tenho correspondido com o que penso ser um robot no Hotmail. E embora a maior parte do que se perdeu continuará perdido, consegui desenterrar algumas coisas, incluindo o email que começou a nossa amizade, este tempo todo atrás em 2002".
No dia 7 de Junho de 2002 Natalie Portman tinha escrito "Jonathan, foi tão bom conhecer-te depois da leitura no outro dia. Adorei o que disseste acerca da última linha do livro acabar no meio de uma frase, que era um diálogo com o leitor e o que o leitor preenche completando o livro. Lembrou-me daquela coisa do Walter Murch sobre filme digital: nunca será tão emocional como filme-filme porque não tem o negro entre as cenas. Com um filme normal (como provavelmente sabes) entre cada cena há uma cena em negro que pisca durante uma fracção de segundo e os olhos do espectador preenchem com imagem num acto reflexo. Por isso o espectador está de estar engajado de uma maneira que não tem de estar se todo o aspecto visual lhe for disponibilizado. É o nosso engajamento no processo, a nossa ajuda na criação da obra que nos faz sentir a história".
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