Construir uma identidade e auto-estima sólidas na era das redes sociais

É quase um lugar comum dizer que a sociedade nos veicula informação e padrões do que deveríamos ou não estar a fazer. Se abrirmos uma revista ou virmos um anúncio publicitário, somos confrontados com uma visão estereotipada do sucesso, da família ideal e do dinheiro que devíamos estar a ganhar. 
A renomeada psicóloga Linda Papadopoulos considera a auto-estima como a pedra basilar de uma identidade que não depende de indicadores superficiais mas que é consistente e permanece com a pessoa ao longo da vida. É definida como uma proteccão solar que nos permite enfrentar assim as adversidades que vão inevitavelmente surgir. A Dra. Linda aconselha-nos a ter uma abordagem que diga "Eu gosto bastante de mim e sei o que é importante", que se mantenha pela vida fora. 
A psicóloga fala ainda do síndrome de querer ter tudo (dinheiro, um certo tamanho de vestuário, um casamento de sonho) e acredita que esse é um produto da mitologia e contos de fadas alimentados pelo nosso subconsciente. Mas, a visão feminista de que é possível sermos tudo o que queremos ser não vem isenta de pressões. Pelo contrário, ao tentarmos provar que conseguimos fazer tudo esquecemos frequentemente o que constituiu a nossa individualidade. 
O sucesso exige trabalho árduo e tudo o que parece demasiado fácil e perfeito simplesmente não é real: é muitas vezes uma grande fachada. Linda Papadopoulos considera que a vida serve para aprender acerca de nós mesmos, praticar a auto-aceitação, não deve ser definida pelos erros . Em última instância temos de perguntarmo-nos para quem queremos ser perfeitas. Vivemos supostamente numa meritocracia mas há situações que dependem de sorte e de ser a altura certa. A vida não é uma maratona e não deveríamos internalizar os fracassos, como se todo o mundo fosse bem-sucedido e nós não.
Em linhas simples, a Dra. Linda pede-nos para estar conscientes das comparações sociais que fazemos e encarar as redes sociais como comunicados de impressas, com versões polidas da vida de todos os dias feitas para nos impressionarmos uns aos outros. Em segunda pede-nos para não competir por coisas externas mas para olharmos para dentro de nós e não em relação com outras pessoas (celebrar o nosso próprio tipo de beleza, aquilo em que somos bons, quem nós somos, etc). Mais do que nunca, as redes sociais para além de nos conectarem ao mundo contribuem para estabelecer, definir e construir identidades. No contexto societal, os "outros" que antes eram um termo abstracto ganham dimensões quantitativas na Internet (podem fazer gosto, seguir, retuitar-te, rejeitar a tua amizade, etc). Muitas vezes não têm os nossos melhores interesses em mente e se dependemos demasiado deles para nos sentirmos bem em relação a nós próprios, estamos numa receita para o desastre. Os comentários destrutivos, por vezes surgidos de puro tédio são como paredes de uma casa de banho comum que tanto como nos podem engrandecer como ser potencialmente prejudiciais. A solução é não dar valor a todas essas opiniões, é perceber o esbater de fronteiras entre o mundo dito real e o online, que se torna a fonte de tantos problemas. Tentar entender a agenda dos media, o que é superficial e sem significado é também muito importante. Eles são simultaneamente a mensagem e o mensageiro e começamos a ser como peixes num aquário que não têm percepção da água porque é tudo o que conhecem. É preciso filtrar esse barulho de fundo, desafiar os papeis tradicionais atribuídos a rapazes e raparigas (o motivo pelo qual um conjunto de items de química para elas tem de ser com lipgloss, por exemplo). 
As redes sociais permitem-nos amplificar a nossa voz e conectar-nos às mulheres que trabalham diariamente para mudar o mundo. É o momento ideal para apreciar o que é diferente, o que nos toca, ser o que ainda não podemos ver e construí-lo nós mesmos.
A informação que temos tem de ser analisada cuidadosamente e bem digerida. A nossa cultura de celebridades é muito absorvente mas temos todas as ferramentas necessárias para mudar os paradigmas, para ver para além da superfície e desse jogo de espelhos, para questionar. Apostar tudo no nosso aspecto físico, no chamado cesto da beleza é escolher algo que não vai durar, que é temporário e mutável enquanto que as nossas paixões, intelecto, valores morais e éticos podem durar uma vida inteira.
Devemos ultrapassar as crenças negativas e acreditar na mudança (em cerca de cinco décadas pássamos do exemplo corajoso de Rosa Parks para a eleição de Barack Obama). É muito trabalho para fazer no sentido de virar o jogo (salários iguais, deixar de ver a mulher como um mero objecto) e transmitir esse conhecimento para a próxima geração. Desafiar a ideia do que é importante para nós enquanto mulheres é um dos passos para uma maior auto-estima, uma melhor conexão ao mundo e a construção de uma identidade forte, sólida e consistente que nos acompanhe toda a vida.

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