O futuro do papel para os escritores

Quando andava no 5º ano o tema mais importante era a poluição. Falou-se do buraco no ozono, das energias renováveis e não renováveis, da emissão de gases CFC e o quão preponderante deviam ser os esforços de preservação ambiental de modo a garantir uma atmosfera saudável para todos. Debatemos a destruição da floresta Amazónica e desfilámos no final do ano com globos feitos de cartão pintado na cabeça. Na altura, o abate de eucaliptos para se produzir papel era uma grande preocupação. O que mudou em 18 anos na realidade do mundo?
 A mudança mais flagrante é que a Internet domina cada vez mais o planeta Terra, os ebooks estão em ascensão e os jornais em formato físico tradicional são preteridos em favor das plataformas online. O que significa isto para um escritor?
Qualquer escritor desconhecido que queira lançar-se no mercado, como é o meu caso, manda os seus manuscritos originais para editoras literárias da sua escolha. Provavelmente depois de receber alguns nãos irá receber o tão desejado sim. O que acontece é que a maioria das editoras pede um montante, de valor variável consoante a tiragem de exemplares, para editar o livro. A carreira na escrita não se afigura de todo fácil para quem quer fazer dela a sua  actividade primordial ou pelo menos a principal fonte de sustento. A vida de escritor é feita de pedras no caminho, e nem sempre, pensamos em guardá-las a todas para construir um castelo. Às vezes achamos que nos destroem, minam a nossa auto-estima e o nosso crescimento pessoal. A rejeição, seja de que tipo for, é dolorosa especialmente quando sentimos que a arte que praticamos, a palavra, é tão parte de nós como o próprio sangue. Visto em termos de marketing pessoal, se não conseguimos vender o nosso produto sentimos que é porque este não tem qualidade, o que não tem de corresponder à verdade. Uma resposta negativa a uma obra pode ser ditada pura e simplesmente por tendências de mercado e outros factores que não podemos controlar. Quando a nossa criação é aceite o sabor é ainda mais doce e sentimo-nos valorizados depois de todos os tropeços e incompreensões de que fomos alvo antes. Por isso acho que é profundamente injusto as editoras exigirem um valor à cabeça pelo nosso trabalho (para mim a escrita é algo que me dá tanto prazer que não lhe chamaria propriamente isso mas em termos estritamente práticos é trabalho e deve ser reconhecido como tal). Esta é a principal razão por ainda não ter publicado nenhuma das minhas obras ainda. Sabemos que a tipografia e distribuição dos livros acarretam custos e que negócio é negócio mas o escritor que quer tornar-se relevante, que quer ser lido, num mundo ideal não deveria pagar para isso. 
Com o advento da Internet, é já possível editar um livro gratuitamente. Perante a possibilidade de divulgar o nosso projecto a custo zero e ter um público alvo potencial de milhões e milhões de pessoas (todos os utilizadores da world wide web) qual será a plataforma e estratégia a eleger para os aspirantes a escritores? No fundo, acho que já tomos sabemos a resposta. Confesso que sou uma pessoa que gosta de ter os meus livros e revistas favoritas perto de mim, poder virar as páginas, sentir o seu cheiro, serem para além de uma companhia intelectual uma companhia física. Mas, cada vez mais a realidade é virtual, é o mundo digital. Durante quanto mais tempo poderá o papel resistir? Como podem os novos escritores adaptar-se a essa situação? Temos de continuar a trilhar o nosso percurso, a sermos fieis à nossa consciência, tendo em conta que não há respostas fáceis, que enquanto produtores de conteúdos temos direitos e deveres, que como dizia a raposa do livro "O Principezinho", somos responsáveis por todos os que cativamos. Sejam eles amigos, um namorado, neste caso os leitores. A direcção será sempre em frente tendo em conta que o nosso desenvolvimento começa fora da nossa zona do conforto e quando damos pequenos passos mas graduais, as mudanças começam a acontecer. Se quando estamos preparados o mestre aparece, também é quando reconhecemos as ferramentas que já possuímos dentro de nós que os resultados e, por vezes autênticas metamorfoses, sucedem. 

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