Construir pontes

Todos nós já atravessámos pontes físicas, de maior ou menos dimensão, feitas de betão ou aço, construídas por uma equipa experiente. Um engenheiro supervisiona a sua edificação e funcionamento. Mas, como poderemos ser engenheiros de seres humanos e construir pontes invisíveis que aproximem pessoas, que esbatam fronteiras, unindo-nos num objectivo comum?
Em primeiro lugar, temos de ter em conta a distância que existe entre cada um de nós. Por vezes podemos estar no meio de uma multidão de pessoas e sentirmo-nos extremamente solitários ou estar sozinhos e sentir que qualquer coisa nos acompanha. É um facto que por vezes estamos vulneráveis e precisamos mais da presença dos outros. Noutras vezes, estamos mais auto-suficientes e não sofremos desse tipo de carências. Há cerca de oito anos fui a uma conferência em Badajoz sobre Jornalismo Ibério, em que se falou sobretudo das diferenças entre a Imprensa Portuguesa e a Espanhola. Uma das memórias mais emblemáticas que me ficou desse agradável encontro foi uma borracha muito grande que nos ofereceram, da parte do Gabinete de Iniciativas Transfonterizas que dizia, em tradução literal do castelhano, "apagando listras", o que também pode significar apagar os limites que nos confinam. Às vezes é mais fácil sentirmo-nos mais próximos de nuestros hermanos porque somos vizinhos do que de outros povos mas nem sempre é assim.
Hoje em dia trocamos mensagens ou fazemos sessões de vídeo com pessoas que não conhecemos pessoalmente, vamos a salas de chat impessoais em que tentamos recuperar um sentimento de comunhão e troca de energia vital, que invariavelmente perdemos. Mas, esta construção a que associamos uma carga pesada da nossa identidade nem sempre nos faz bem. Sabemos que milhões de pessoas são vítimas de bullying, quer na escola quer ciberneticamente e infelizmente este delito não mostra tendências de desaparecer. No entanto, ninguém pode-te humilhar ou fazer sentir inferior sem o teu consentimento por isso quando é possível devemos ignorar ofensas gratuitas e procurar refúgio naquilo que sabemos ser certo: na nossa família, nos amigos, nos nossos valores, etc.
Quando se estuda o que une as pessoas, é portanto importante a proximidade e afinidade emocional. Ter a mesma configuração mental, paixões e interesses semelhantes bem como modos de estar na vida que não têm de se completar mas sim complementar. O bem-estar começa por nós mesmos e se buscamos estar com os outros para fugir à experiência de viver na nossa própria pele, os resultados raramente serão positivos ou, pelo menos, aqueles que esperávamos.
Um dos factores que constroem as pontes de que precisamos para chegar aos outros é a linguagem verbal. Comunicar é por definição, por em comum e falar a mesma língua é imprescindível para fazer passar uma mensagem literal ao outro. Mas, há muita comunicação que produzimos sem pensar que não necessita de palavras ou de intérprete. É o caso do olhar, dos gestos, da postura corporal, do sorriso, entre outros. É a maneira como colocamos a nossa essência na mínima coisa que fazemos.
As pontes físicas são impressionantes e uma criação maravilhosa mas as pontes humanas são ainda mais bonitas: porque nos ligam aos outros, nos acrescentam e nos fazem dar um pouco de nós. Ninguém tem exactamente o que possuímos dentro do nosso coração por isso é que importa tanto estarmos alinhados com os nossos propósitos na vida e lutar para que possamos expressar livremente a nossa voz. Estamos aqui para dar e receber afectos, para prestar um serviço ao outro, para nos realizarmos em todos os nossos campos e florescer. Tudo o resto é secundário. Fazer pontes é mais do que criar, é soprar algo único e sagrado porque quando temos objectivos comuns somos muito mais fortes e tornamos este planeta por vezes tão duro em algo mais fácil de gerir, mais dócil e mais sano.

Fotografia de Li Wei

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