Uma síntese do feminismo

A designação "feminismo" apenas aparece nos finais do século XIX para definir um movimento social que denuncia a contradição entre a ideia de direitos do homem e a subordinação legal das mulheres e o seu afastamento da cidade. A insatisfação em relação ao lugar relegado às mulheres está historicamente documentada desde a Idade Média mas só no século XX seriam levantadas, nos países industrializados, as discriminações de que as mulheres eram alvo. A acção feminista engloba lutas quotidianas discretas para melhorar a condição das mulheres até movimentos muito expressivos e bem organizados como as sufragistas inglesas que pugnaram pelo direito de voto. Na década de 1970, o movimento de libertação das mulheres originário dos Estados Unidos propagou-se em outros países democráticos. Para tal contribuiu o desenvolvimento da cultura, da Psicologia, Psicanálise e outras ciências humanas que colocavam em evidência a prerrogativa da pessoa de definir-se a si mesma, particularmente com a reivindicação do direito ao aborto.
Se as exigências do feminismo são actualmente largamente aceites como legítimas, a realidade dos factos não as suporta. A nível laboral, há um menor leque de escolha profissional para as mulheres (estratificação horizontal) e maior desemprego, salários mais baixos e outros obstáculos que não permitem às mulheres ascenderem a posições prestigiantes e de poder (estratificação vertical).
As reivindicações das mulheres são apoiadas por várias instituições internacionais. Segundo Héritier o lugar que se atribuiu às mulheres nas sociedades é um reflexo da sua modernidade, sobretudo nos países terceiro mundistas que se alicerçam ainda na "valência diferencial dos sexos".
O feminismo alberga correntes de pensamento distintas ou até opostas. A posição que insiste nas diferenças de natureza biológica ou psicológica é diametralmente díspar à que releva as influências da sociedade. A posição que defende princípios gerais é antagónica à que pretende melhorias imediatas. As discriminações positivas, vigentes nos países anglo-saxónicos são frequentemente rejeitadas em França, que defende o universalismo republicano.
A participação das mulheres na esfera social faz-se no seio das instituições que existem e pela criação de outras próprias, casas editoriais, estudos académicos sobre as mulheres e o género humano, com toda a estruturação do pensamento e espírito crítico que estes trabalhos requerem.
Seria impossível falar de feminismo num sentido lato sem falar de género, a diferenciação social entre os dois sexos. Este termo possui a vantagem de destacar a necessidade de separar as diferenças biológicas das sociais. 
Se anteriormente os papeis sexuais eram conforme a tradição, concebidos como resultantes da divisão natural do trabalho que delegava às mulheres as responsabilidades domésticas e a educação dos filhos, desde que as mulheres ingressaram em força no mercado de trabalho, que os eixos em que este panorama assentava se alteraram em definitivo. Os sociólogos de orientação feminista acreditam que a divisão sexual das tarefas está longe de ser a consequência natural de diferenças biológicas mas foi construída e mantida socialmente. A teoria feminista incide sobre a distribuição do poder e recursos entre homens e mulheres, os símbolos e imagens referentes aos dois sexos e suas relações. A abordagem funcional-estrutural dos papeis sexuais (separação entre domínio público e domínio privado, entre família e trabalho) é posta em causa. O género é referido como fundamental a toda a organização social, ao mesmo título que a classe, como uma categoria construída pela sociedade na família, escola, economia, política e cultura. 
O feminismo é um diálogo, não rígido e fechado, que não se restringe às mulheres e aos seus direitos mas também a maneira como os homens se comportam, tratam e compreendem aquela que deve ser a causa de todos os seres humanos: a igualdade universal.  


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