Do tempo e da fé

Nada nos atemoriza tanto como o tempo. O tempo que nos falta, aquele que nos sobra que tal como uma página em branco tentamos preencher e atribuir-lhe significado. Ao olhar para trás, queremos ter a sensação que gastámos as nossas horas e dias com o que realmente importa e não nos perdemos no supérfluo. Mas tudo isto são fatias do mesmo bolo, haverá sempre momentos em que achamos que não aguentamos mais ou porque dormimos mal ou estamos sem paciência, em que a alma tem vontade de se enfiar dentro de cobertores confortáveis e por aí ficar até a neura passar. Somos assim: com os nossos defeitos, as nossas paranoias e também com os nossos sonhos e capacidades. Custa esperar por uma oportunidade de sair das sombras e alcançar outros voos mas nunca é demais cultivarmos-nos porque todos os dias se fazem novas aprendizagens.
Nunca pensamos muito naquilo que nos define, no que gostamos em nós e não estamos dispostas a abdicar. O que faríamos se tivéssemos de abandonar o nosso país definitivamente e viver com uma nova condição, a de refugiado? O que faríamos se não pudéssemos praticar a nossa religião livremente ou se nos forçassem a converter a outra diferente? Deixar tudo o que nos é conhecido tem sido o destino de milhões de pessoas ao longo da história do mundo, este êxodo que deixa marcas indeléveis na geografia do coração. Quantas vezes tentámos impor uma determinada fé pela lei do mais forte, da violência pura e dura? A fé, como qualquer fenómeno da natureza (um riacho, uma flor, um arco-íris) tem de brotar por si só, é uma curiosidade, uma sede e um dom em si mesmo. É a junção da predisposição da alma com a oportunidade de tomar conhecimento de uma palavra que se considera divina. Partilhamos o mistério do sagrado todos os dias. Honramos o tempo que passa porque a cada segundo nos transformamos e cada minuto não é exactamente igual ao anterior. As preocupações que assolam a nossa mente têm de dissolver-se na paz de quem entende que não pode controlar tudo, nem sequer uma fracção do que lhe acontece mas que pode aprender, amar e crer sem qualquer tipo de limitações. 

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