Amor fast food

O cenário repete-se um pouco por todo o mundo. Temos fome, queremos uma comida saborosa e rápida e decidimos esquecer as calorias por um dia e ir à cadeia de fast food mais próxima. Neste mundo os acontecimentos parecem suceder-se a velocidade vertiginosa, como se a Terra estivesse a ameaçar poder sair dos eixos. A Internet funciona cada vez mais depressa, regurgita-se informação sem sequer ser digerida e muitas vezes sentimo-nos sós e perdidos, não importa quantas redes sociais e motores de busca existam.
O mesmo se aplica ao amor. Se antes se valorizava o processo de fazer a corte, a conquista até ao namoro nos dias de hoje tudo parece ser governado pelas hormonas e veloz com o desejo que tantas vezes se confunde com o amor.
Cada vez menos estamos habituados a esperar pelo que queremos, seja comida, uma promoção no trabalho ou pela pessoa de quem gostamos. Esquecemo-nos que na paciência da espera habita a magia da idealização que dão um significado especial quando finalmente tudo corre como sonhámos. Mais do que isso, se construirmos uma casa sem fundações esta vai ruir em pouco tempo. De modo análogo, o amor que não é baseado na amizade, no diálogo e na partilha será como uma chama que não se consegue alimentar e se consome depressa na vertigem do que a despoletou. A atração física por si só não sustenta uma relação se não for acompanhada de algo mais, um conjunto indefinível de traços que criam a cumplicidade entre o casal e fazem com que se tornem íntimos um do outro na verdadeira aceção da palavra.
O amor não é um prato pré-cozinhado que se leva ao micro-ondas e em poucos minutos fica perfeito. É de fabrico artesanal, exige cuidado no manuseamento, trabalho e dedicação a reunir todos os ingredientes nas doses certas e por mais tempo que esteja a cozinhar nunca é perfeito, há sempre parâmetros a melhorar. Mas quando existe entrega e vontade de crescer juntos todos os obstáculos podem ser superados, não há problema demasiado grande, como escreveu Virgílio “O amor vence tudo”.
Os nossos sentimentos também precisam de estar em banho-maria para se desenvolverem, para entrarem em maturação. São feitos das nossas ideias, do que queremos no dia-a-dia e da dualidade entre a paz e relaxamento profundo e o entusiasmo e a excitação. É nesses paradoxos e contrastes que vive uma relação e temos de saber que não podemos negar uma dimensão a favor da outra: há que conciliá-las todas. Não podemos ambicionar a felicidade e o enlevo inigualáveis que o amor traz sem passarmos pela casa da tristeza e da desilusão.
Todos temos o nosso ritmo natural de fazer as coisas e de construir uma relação. Roma não foi feita num dia, como se costuma dizer. Não podemos esperar milagres nem soluções instantâneas. Não deixe que a pressionem e lembre-se que é fácil viver as emoções de forma superficial mas que tem muito mais valor quando deixamos que estas alcancem o nosso interior e para isso têm de ser compartimentadas, processadas, feitas em lume brando.
Do mesmo modo que comer fast food todos os dias não é saudável, a azáfama e a pressa na hora de viver o amor também são muitas vezes nefastas e inimigas da perfeição. Uma perfeição que apenas existe na medida do possível, sendo que não há definição nem tamanho para o sentimento que é o amor, não é digno desse nome. O amor verdadeiro é intenso, na medida dos nossos sonhos; numa palavra: infinito.

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