Bowling for Columbine



“Bowling for Columbine” (2002) é um documentário norte-americano realizado pelo cineasta Michael Moore que venceu o Oscar de melhor filme documentário, o Prémio do 55º aniversário do Festival de Cinema de Cannes e o Prémio César da Academia de Cinematografia Francesa na categoria de melhor filme estrangeiro.
O massacre em Columbine foi um tiroteiro numa escola secundária que ocorreu a 20 de Abril de 1999 executado por dois estudantes finalistas, Eric Harris e Dylan Klebold, que depois de matarem 12 alunos e um professor e ferirem 21 pessoas, cometeram suicídio. O ataque, o mais mortífero na história dos Estados Unidos até então, suscitou um debate sobre leis de controlo de armas, filmes e jogos violentos, clãs escolares, subculturas, bullying e depressão (um dos atacantes alegadamente sofria da doença). O tiroteio gerou pânico moral e um ênfase na segurança escolar.
O título do documentário refere-se ao facto de supostamente os perpetradores do massacre terem frequentado uma aula de bowling escolar às 6h da manhã do dia em que cometeram os crimes. Mais tarde, os polícias descobriram que Harris e Klebold tinham estado ausentes da escola no dia do ataque.
O documentário abre com uma sequência em que o realizador Michael Moore abre uma conta num banco e lhe é informado que, depois de um procedimento muito acessível, pode ganhar uma arma.
Em sequências com fragmentos de publicidade, armas de fogo e animações satíricas sobre a história dos Estados Unidos, é explorada de forma pessoal e artística a natureza da violência nos Estados Unidos. É usada a música “Happiness is a warm gun” dos Beatles para uma das montagens. Numa secção ao som de “What a wonderful world” de Louis Armstrong é evidente a política agressiva americana, patente na forma como geriram conflitos e lidaram com governos considerados “incómodos” como o Irão, Iraque e Vietnam. E destacado que nos anos 1980 os Estados Unidos treinaram Osama Bin Laden e os seus companheiros jihaídistas para matar soviéticos com a CIA a dar-lhe 3 biliões de dólares. A montagem acaba com o voo 175 da United Airlines a embater na torre sul do World Trade Center a 11 de Setembro de 2001 e com as reacções estupefactas das testemunhas.
O objectivo do documentário é saber porque aconteceu o massacre de Columbine e porque os Estados Unidos têm uma taxa de crimes violentos, com armas de fogo, exponencialmente mais alta do que em outros países democráticos como Alemanha, Japão, Reino Unido e França.
Moore sustenta que a maior taxa de homicídios com armas de fogo não se deve a um maior número destas do que noutros países. Usa como ponto de contraste o Canadá, país vizinho com uma grande quantidade de armas de fogo em que a violência é muito menor e em que se respira tamanha tranquilidade que muitas pessoas, como verificado por Moore, não trancam as portas da sua casa. Isto contrasta de forma flagrante com os Estados Unidos, onde Moore chega a entrevistar um homem que dorme com uma arma carregada debaixo da almofada. Michael Moore especula se a cultura de violência terá raízes no passado da nação ao subjugar os índios nativos mas depois aponta países com uma história sangrenta como Japão e Alemanha com muito menos homicídios. A militarização dos Estados Unidos, a segurança social reduzida e racismo (com uma maior proliferação de armas na população branca para se defenderem de ameaças percepcionadas na raça negra) são apontadas como possíveis causas para esta situação.
“Bowling for Columbine” defende que uma cultura do medo é prejudicial aos americanos, é criada pelo governo e pelos media para levar os cidadãos a andarem armados, para benefício das companhias produtoras de armas. Este ponto é bem realçado na entrevista à estrela rock Marilyn Manson que defende que a sociedade norte-americana é baseada no medo (se tiveres mau hálito ninguém vai falar contigo, por exemplo) e no consequente consumo. É referido que os media o apontaram como um bode expiatório imediato para o massacre, negligenciando o facto que o Presidente Bill Clinton ordenou mais bombardeamentos em Kosovo no dia 20 de Abril de 1999 que em qualquer outro dia da campanha dos Balcãs. Moore pergunta a Marilyn Manson o que diria aos estudantes de Columbine ao que ele responde “Não lhes diria uma única palavra; ouviria o que têm a dizer e é o que ninguém fez”.
A política de “a melhor defesa e o ataque” e de que possuir uma arma é um direito essencial traz um falso conforto que nunca suplanta a insegurança. Os Estados Unidos são o país mais violento do mundo, em que crianças e adolescentes, com uma frequência chocante, matam e são mortos com armas de fogo.
O documentário contém uma nota de esperança quando duas vítimas de Columbine, Mark Taylor e Richard Castaldo pedem uma indemnização pelas balas ainda alojadas no seu corpo. Sem obterem uma resposta satisfatória vão a uma loja Kmart em Sterling Heights e compram toda a munição. Um responsável da firma informa que eles vão mudar a sua política e deixar de vender munições de armas de fogo, como estes tinham insistido.
Na cena final do filme, Michael Moore fala com Charles Heston, actor e presidente da National Rifle Association of America (NRA), uma organização não lucrativa que defende o direito às armas e é contra a legislação às mesmas desde 1975. Moore pergunta-lhe porque a América tem uma história tão grande de violência com armas, Heston responde que o país tem uma história de violência e mais etnias misturadas que qualquer outro país. Moore pergunta-lhe se se desculpa por fazer um comício da NRA em Flint, Michigan depois do assassínio de Kayla Rolland, uma criança de seis anos na Escola Primária Buell e em Littleton depois do massacre de Columbine, o que leva Heston a abandonar a entrevista.
“Bowling for Columbine” quebrou recordes de bilheteira, que seriam batidos pelo próximo documentário de Michael Moore, Fahrenheit 9/11.



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