O medo de não existir

Desde que me conheço que vivo fascinada com os grandes mistérios da Humanidade. Quem somos? De onde vimos e para onde vamos? Como podemos viver uma vida com sentido? No ensino secundário comecei a ter aulas de Filosofia e a identificar-me com a matéria que estudava, com o que outros seres pensantes tinham observado acerca do mundo. Aprendi que a experiência vai colorir as nossas emoções e percepções e nos vamos construindo a partir dela e da cultura em que estamos envolvidos (noções, valores, normas, princípios, tradições, etc). Pensar requer esforço, não é um dado adquirido, afinal como a minha professora repetia os filósofos não brotam da terra como os cogumelos.
O meu percurso até aqui tem-se pautado por uma certa indefinição uma vez que tenho um leque de interesses variados. A minha paixão pela escrita levou-me a tirar a licenciatura em Jornalismo e Comunicação e o meu desejo de compreender melhor o mundo a concluir o mestrado em Relações Internacionais. Hoje creio que sei expressar-me melhor, sei procurar melhor a informação de que preciso e sobretudo, aos 28 anos de idade conheço-me muito melhor a mim própria do que conhecia aos 18. Pela minha perspectiva, é muito mais fácil antes de pensar fazer uma diferença na sociedade, olhar para dentro e mudar-nos a nós próprios. Oriento-me por duas máximas que considero muito válidas: a de Séneca "Faz tudo como se estivesses a ser observado" e Gandhi "Antes de pensares em mudar o mundo dá duas voltas na tua própria casa". De facto, todos queremos ser pessoas melhores e mais próximas da perfeição quanto possível. Para os católicos, por exemplo, isso advém da imitação de Jesus Cristo. Mas, antes de nos voltarmos para entidades e objectos que não podemos controlar se nos concentrarmos na nossa própria natureza já estaremos a fazer pelo menos uma pequena mudança que a sociedade precisa de ver. No meu entender para crescermos fortes precisamos de integrar o que é comum à Humanidade inteira, o que nos faz ser o que somos. Nesse processo de selecção poderemos eventualmente de ter de cortar alguns laços com o passado (processo que pode ser doloroso mas necessário) e de fechar algumas portas. Por mais que ambicionemos a ser homens do Renascimento temos de nos especializar nalgum ramo seja ele qual for.
Se como disse o psicólogo Carl Jung "Até onde conseguimos discernir, o único propósito da existência humana é acender uma luz na escuridão da mera existência" é perfeitamente compreensível o medo de não fugir ao banal, de não alcançar a luz da felicidade que nos faz escapar ao normal e estandardizado e ver em tudo algo de único e extraordinário. A tal se junta o medo de ficar na escuridão, de virar pó. A vida é um acto de consumo, qual chama de fósforo que arde e acaba por se apagar, sem deixar rasto da sua paisagem. Por isso é que tentamos de todas as formas deixar marcas que assinalem que estivemos aqui e fazemos os possíveis para nos sentirmos vivos agora. Afinal não faz sentido viver com medo, mas para existir temos de abraçar esse contrário, perdermo-nos na intensidade dessa vertigem que é a de um dia não estarmos mais cá. Mas por enquanto o nosso corpo respira, a nossa alma existe, vibra e canta e é nisso que nos temos de focar. Se no ciclo terreno de nascer e morrer conseguimos distinguir um vislumbre de eternidade seremos felizes ao agarrar esse momento, em que mais brilhantes que o sol, com asas nos pés e sonhos no coração, fomos capazes de nos superar e exceder as expectativas que tínhamos para a nossa existência e dar-lhe toda a luz que ela merece.

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