Tarde demais



Poucas palavras há que sejam mais tristes do que não ter sido capaz, não ter sido suficiente, não haver nada a fazer. Tarde demais. Um segundo depois já não conta. Porém há beleza em todas as tentativas mesmo aquelas que por qualquer motivo ficaram pelo caminho e não foram bem-sucedidas.
O tempo permite-nos reflectir mas também nos traz, como as ondas do mar, os pontos em que estivemos menos bem e até onde fracassámos. Faz parte de ser humano fazer escolhas erradas e por vezes só é possível ver que algo não era para nós quando as levámos até ao fim. Aí atingimos uma espécie de limbo em que todos nos cobram o que fizemos como se tivéssemos de dar sempre contas dos nossos mais ínfimos actos. Não pode ser um ponto de não retorno se essas escolhas produzirem infelicidade. Tem de haver uma maneira de recuar, de voltar para trás e com a distância vermos a vida com outros olhos porque já houve tempo para mudarmos e amadurecemos entretanto. Será a maturidade uma perfeita ilusão? Nunca deixamos de ser crianças porque essa é a nossa essência não importa o quanto crescermos em corpo e saberes aprendidos. A nossa mente diz-nos muitas vezes o que não é possível, que temos os nossos limites e não podemos ir além deles.
E no entanto será que haverá realmente tarde demais na vida? Não estaremos a subestimar o valor de recomeçar, de ver as coisas com outros olhos, de ainda sermos capazes de alcançar o que se avizinhava tão longínquo? Depois de subir uma montanha nada melhor do que escalar outra porque a vida é feita de desafios e de muitas montanhas. A chegada não interessa tanto como o caminho porque o caminho é intrínseca e inexpugnavelmente nosso, faz-se com os nossos pés e os nossos sonhos que são o nosso motor e que nos dão força quando estamos cansados. É neles que a nossa mente ganha asas e começa a acreditar que ainda vai a tempo, que nada chega antes ou depois da sua hora, que não é tarde nem é cedo, é o momento certo.



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