Ser português

Todos os dias ouvimos comentários sobre o estado do país e a quão baixo chegámos. É quase como uma vocação portuguesa de como país pequeno, nos vermos também pequeninos como se estivessemos na infância da nacionalidade em vez de sermos o país calejado com as fronteiras definidas mais antigas da Europa que somos. Cumprimos os preceitos da Troika e agora novas paisagens se recortam no horizonte. Não devemos reduzir a nossa importância nos destinos do mundo porque o mundo é feito disso mesmo: de nações que mais ou menos unidas tomam decisões sobre as questões prementes da Humanidade. 
Os empregos que são criados não suficientes. Os cortes na função pública danificaram a nossa qualidade de vida. D. Sebastião não vai aparecer num cavalo branco para nos salvar a todos. Pelo contrário, os dias prosseguem todos iguais, os fins-de-semana à tarde com programas brejeiros. Esta noite estreia mais uma edição da Casa dos Segredos, que pretende colar ao ecrã uma panóplia de pessoas com situações que nos fazem pensar que não é por acaso que rima com "degredos". Ali se produz a fama instantânea , que ao que parece mais do dobro dos jovens portugueses preferiu em detrimento de se candidatarem às universidades. Todos querem ser capas de revista por participarem num programa de televisão, por basicamente não fazerem coisa nenhuma. 
A Casa dos Segredos parece ser um modelo retorcido de sucesso juvenil. Há uns anos atrás era um orgulho para os pais poder dizer "Acabou o curso e já está a trabalhar". Agora a lógica parece ser "Acabou a Casa dos Segredos e já está a fazer presenças". Esta é uma questão que em muitos aspectos me ultrapassa porque depois de ver uma pessoa na televisão, 24 horas até se o desejarmos, parece-me ser um desperdício de tempo e dinheiro, pelo menos numa altura de crise em que muitos pais fazem todos os sacrifícios do mundo para garantir os estudos e um bom futuro para os filhos. 
Vivemos numa sociedade paradoxos. Ver este tipo de programas explora o lado voyeurista de cada um de nós, é um entretinimento lúdico, que nos faz esquecer de pensar por uns momentos e cumpre uma função de divertimento e lazer. No entanto, por ser desprovido de conteúdo e intelectualidade, acredito que não deveriam ser dadas audiências a esse tipo de programas. O mínimo possível. Só desta forma será possível encontrar alternativas mais adequadas à nossa formação e psique.
Ser português é muitas vezes lidar com problemas numa base diária. Isso é ser humano também. A estrada nunca está facilitada e quando pensamos o contrário logo se acumulam novas pedras que nos magoam mas também nos desafiam e estimulam a crescer. Ser português é trazer o amor no sangue e o fado no coração, é apesar de toda a dor e contrariedades manter o brilho nos olhos e nunca perder a esperança.

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