O valor da esperança


A esperança pode ser definida como a luz que nos permite avançar mesmo quando tudo parece perdido, é um estado emocional de crença num resultado positivo relacionado com circunstâncias ou acontecimentos da vida, de que algo pode ser bem feito. Aliada a esta atitude vem a capacidade de ver a perspectiva geral que apazigua as imperfeições, em vez de nos focarmos em todos os aspectos fora do lugar.
Ao removermos da nossa mente pensamentos negativos e paralisantes, tornamo-nos forças motrizes de nós mesmas, cultivamos auto-confiança e temos a determinação de planear e dirigir-nos para o que pretendemos atingir. Afred Adler defende que não podemos pensar, sentir, ser ou agir sem a percepção de um objectivo, ou seja sem ter  um sentido inerente aos nossos actos. Charles Syner define a esperança “como a soma de força de vontade mental e de concretização..", o que implica  entendimento, concentração e aprendizagem tácita de como obter o que procurarmos. 
Ter esperança e nunca perder esta qualidade fundamental requer a mesma persistência e paciência de quem executa um trabalho artesanal, para que as peças desirmanadas da vida se encaixem e possamos seguir em frente. 
A nível religioso, o conceito de esperança está presente em várias religiões mundiais, como o cristianismo, em que colectivamente se espera alcançar a salvação, a vida eterna e o Paraíso. O crente é descrito como alguém que espera pelo que não consegue ver, com forte e convicta expectativa de que as promessas de Deus sejam cumpridas. Na Bíblia, é definida como a âncora da alma e uma das três virtudes teológicas, juntamente com a fé e o amor.
Na Psicologia, a terapia existencialista refere que o ser humano é livre, responsável pelas escolhas que faz, autor da sua história e não vítima de condicionalismos exteriores. Esta terapia baseia-se no principio de liberdade individual promover uma abordagem activa, com alterações que possibilitem a resolução de problemas e o crescimento individual. Na reabilitação, a esperança é vital para a concepção de um futuro melhor que será resultado natural de processo bem sucedido. No seu cerne, esta é uma emoção positiva que não precisa de justificações racionais mas de ser sentida de forma profunda e contínua, tanto pelo paciente como pelo profissional que o acompanha. Na terapia de grupo, dialogar com pessoas na fase final de recuperação, seja de que dependência for, dá aos iniciantes a motivação de chegar aquele patamar e de conseguir seguir o exemplo daquelas pessoas. Irvin D. Yalom defende que a terapia necessita da esperança para compreender, moldar o comportamento, aprofundar o auto-conhecimento, fortificar os relacionamentos com os outros e desenvolver factores e características para melhorar. Para tal, tem de estar consciente da universidade de qualquer situação.  O sofrimento derivado de dependências, traumas ou obsessões é transversal aos seres humanos. Entender que não somos as únicas pessoas em precisar de cuidados torna possível a aprendizagem interpessoal e aquisição de ferramentas que permitam ter poder para ultrapassar qualquer obstáculo.


Viktor Frankl (1905-1997) ficou conhecido como "psicólogo da esperança", visto que mesmo com uma história de vida dramática em que foi levado para um campo de concentração, os horrores do nazismo não o fizeram nunca perder a força de viver. Após ter perdido a mulher, grávida, os pais e um irmão no Holocausto começa a reconstruir a vida e retoma a carreira como psiquiatra. A partir das suas experiências como sobrevivente da guerra,  desenvolve a logoterapia, teoria psicológica centrada na busca de sentido da existência. Frankl postulou que o espírito humano é resistente o suficiente para, com a dose certa de ânimo, sobreviver às mais terríveis provações, Desta forma, relaciona a preservação do corpo em condições opressoras com a convicção interior. Em linhas gerais, a logoterapia defende que, se a vida tem significado, o sofrimento, uma parte natural dela, tem de ter um sentido em si mesmo e uma intenção que transcende o ser; como como um sacrífico pessoal que serve um desígnio superior.  A teoria de Frankl aponta para a necessidade de dar sentido a todas as experiências de modo a passar de um estado de vazio existencial para um de completude e serenidade. A teoria vai além das pulsões e frustrações sexuais freduainas, dos complexos (como o de inferioridade de Adler) para um sentido voltado para a espiritualidade. Viktor Frankl escreveu diversos livros e trabalhou até falecer a 2 de Setembro de 1997, com 92 anos de idade. Da sua prática fica a importância da transformação das vivências num ensinamento e manter sempre uma postura digna na vida, focada na auto-superação. "O significado da vida é ajudar os outros a encontrar um significado para as suas" escreveu. 
Os anjos vivem nos pequenos detalhes assim como cada elemento, cada imagem, cada sopro de vida que nos permite contemplar um vislumbre de glória é como um pedaço de céu que toma as tristezas de hoje no seu colo e as transforma num amanhã feito da leveza aprazível de todos os que acreditam e esperam. 


Comentários

  1. Perfeito! Certamente é pela esperança que somos mantidos vivos, posto que é pela “ousadia e exultação da esperança” que se enfrenta o absurdo da existência sem fraquejarmos na fé. Agora, pois, que permaneça a nossa fé nesta esperança, a nossa esperança nesta fé, e o AMOR MAIOR que gera toda esta esperança. Obrigado em louvor!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada eu :) Mantenho este blog há doze anos, este texto tem quase dez, mas creio que se mantém muito atual, especialmente nos tempos mais turbulentos que vivemos. Saber que o tocou de alguma forma enche o meu coração de profunda gratidão e inspira-me para continuar a escrever na Quimera Insular. Espero que continue a acompanhar o blog! Um excelente e abençoado Domingo**

      Eliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

O talento de Mira

As cicatrizes das famosas

A história de Marla