O mito de Selene & Endímion
Segundo reza
a lenda, Selene, deusa grega da lua (cujo nome significa claridade e luz), banhava-se
nas águas do Oceano e começava a sua jornada nos céus quando a noite caia sobre
a terra. A divindade radiante apaixona-se então por um lindo pastor chamado Endímion. Incapaz de permitir
que o amado envelhecesse e morresse, Selene decide fazer com que este se
conserve jovem para sempre. Pede então a Zeus que o faça dormir eternamente, de
forma a tê-lo vivo e sempre com a mesma idade. Todas as noites, Selene descia a
encosta do monte Latmos para visitar o seu amor adormecido e poder beijá-lo e
acaricia-lo no seu sono. Do amor
entre a deusa e o mortal resultaram cinquenta filhas, as Menas, simbolizando os
cinquenta meses lunares numa Olimpíada (período de quatro anos que regia o
calendário grego).
À medida que
as preocupações com a vida depois da morte se
agudizavam, o mito de Selene e Endímion tornou-se muito popular e foi
esculpado em sarcrófagos, um dos quais pode ser encontrado no Museu do Louvre
em Paris. Posteriormente,
outras deusas foram associadas à lua mas só Selene foi considerada sempre como
a encarnação de todas as suas fases. Festivais em sua honra realizavam-se a 31
de Março, 24 e 29 de Agosto, sendo o seu dia assinalado a 7 de Fevereiro. A
deusa da lua era venerada num templo no monte Aventino, que ficou completamente
destruído no grande incêndio de Roma em 64 d.c.
O mito de
Selene e Endímion tem várias interpretações e pontos de análise importantes.
Por um lado, simboliza o curso natural da vida visto que fazendo um paralelismo
com as fases da lua, Selene representa o nascimento, o crescimento, fertilidade
e morte. Vive uma rotina que lhe foi imposta que se reveste de uma melancolia
solitária. Só ela pode compreender a sua função e o que sente enquanto a
desempenha. De um ponto de vista afectivo, o mito remete à inocência apaixonada dos
encontros fulminantes que tocam o coração e mudam, em definitivo, as pessoas
que os vivem. Selene conhece a noite a que oferece a sua presença prateada, a
tristeza e o encadeamento das monótono incubências diárias mas desconhece o
amor, que Endímion despertará em si. Com ele, conhece também o encanto, a
serenidade e a devoção preciosa cristalizada em todos os momentos que lhe
dedica na sua contemplação terna.
Esta lenda da Antiguidade continua a influenciar pessoas do mundo inteiro. Em 1999, os
Garbage inspiraram-se nesta história para o seu videoclipe do single “You look
so fine”. Nele a vocalista, Shirley Manson, personificando Selena canta para o
objecto da sua paixão adormecido . A música, tal como o mito retrato aborda os
amores impossíveis de se concretizarem totalmente, com demasiadas diferenças
para serem conjugadas; a lua que vagueia deslumbrante não foi feita para um
simples ser terreno, destinado a perecer.
O mito de
Selene e Endímion remete-nos a todas coisas belas que nunca poderão ser nossas
e de como o facto de estarmos do lado de fora, a observá-las pacientemente sem
as podermos alcançar nos faz sangrar por
dentro. O sono de Endímon é toda a vida de Selene; estabelece-se uma dualidade
entre a deusa totalmente consciente dos sentimentos e da sua realidade dolorosa
entre a alegre incosciência de quem está a dormir, anestesiado de todas as
emoções fortes que faz sentir. Apesar de estarmos condenados ao exterior do que é radicalmente oposto a nós, continuamos a querê-lo e desejar
que, se esse amor só pode existir nos nossos sonhos, não tenhamos de acordar.



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