Schadenfreude



Schadenfreude (palavra derivada dos termos alemães para dano e alegria) significa sentir contentamento pelo sofrimento e problemas das outras pessoas.
Para o filósofo Arthur Schopenhauer, schandenfreude era um prazer terrível e uma obra do diabo. No cristianismo, este é denunciado como um pecado de grandes dimensões. Friedrich Nietzsche defendia que era um sentimento perigoso, que dava uma sensação de vitória imaginária, de satisfação sem esforço, possivelmente radicado num complexo de inferioridade ou de que o sucesso e/ou felicidade da pessoa em questão eram, de alguma forma, imerecidos. O sentimento de schadenfreude parece aumentar quanto maior  for a beleza, riqueza ou promissora a carreira daquele que agora encontrou um revés ou atravessa uma espiral decadente. Ao percebemos que mesmo quem aparenta ter uma vida perfeita (bens materiais, um relacionamento feliz, um corpo invejável, etc) têm falhas e momentos trágicos como qualquer ser humano, regozijamo-nos e criticamos o que nos é dado a observar. Testemunhar a má fase de vida pela qual os outros passam faz-nos sentir menos sozinhos na dor, do qual todos acabamos por ter a nossa quota parte. Como exemplo, temos os pessoais da cantora Britney Spears e os problemas com a justiça da actriz Lindsay Lohan, que após ser apanhada duas vezes a conduzir embriagada, se estima ter gasto uma pequena fortuna em advogados para resolver os seus processos legais. Este sentimento de bem-estar pela desgraça alheia, é poucas vezes é expresso abertamente mas não deixa de ter força e alcance.
Em 1950, Leon Festinger criou a Teoria da Comparação Social, argumentando que as pessoas não se avaliam pelo cumprimento de objectivos fixos e pré-estabelecidos mas sim em comparação com os outros. De acordo com esta teoria, a nossa percepção de sucesso e perda tem como base as pessoas à nossa volta, através de comparações sociais. Quando estas falham, a nossa percepção de desempenho pessoal acentua-se. As pessoas que mais invejamos são normalmente próximas e do mesmo círculo social que nós ou então celebridades de cuja vida lemos nas revistas e tablóides.
Investigações neurológicas, em que se destacam as ressonâncias magnéticas, apontam para que apenas sentimos schadenfreude por pessoas com quem nos conseguimos estabelecer relação mental e a quem conferimos um certo grau de importância. Caso contrário, a resposta mais natural será a de indiferença. Os mesmos estudos supra citados demonstraram que tanto a schandeufreude como a inveja se radicam em mecanismos neurológicos semelhantes pois activam a região cerebral relacionada com o estímulo de recompensa e com sentimentos de prazer. Em ambas as situações a pessoa visada e a intensidade das reacções que desencadeia dependem da identificação que se estabelece com esta.
Em casos pontuais, schadenfreude pode surgir como um sentimento prazeioroso e justificado, especialmente com a ideia de que se corrige uma injustiça ou de que a pessoa em causa está a expiar males anteriormente cometidos com a agonia do seu presente. De qualquer das formas, torna-se imperativa a questão: o que nos faz sentir melhores por ver uma pessoa cair? Porque temos de sentir-nos permanentemente em competição: comparar, avaliar e justificar o nosso comportamento tendo como padrão de análise a vida de outrem? Se houver maior auto-aceitação, tolerância e liberdade na maneira de viver a própria vida, os sentimentos de schadenfreude terão a tendência a diminuir ao mesmo tempo que nos focamos no que realmente importa: levar os nossos propósitos a bom porto, sermos cidadãos do mundo responsáveis e conscientes, informados, comprometidos com causas, apaixonados pelas pequenas coisas da vida e, acima de tudo, confortáveis na pele que habitamos.

 

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