A infidelidade, transgressão humana


Gérard Pommier é um psicanalista francês que publicou recentemente o livro "Que veut dire faire l'amour?". Em entrevista ao jornal "Figaro" o especialista defende que o desejo tem uma componente de transgressão enraizada no inconsciente: ao amar-se uma mulher "engana-se" a identidade da mãe e ao amar-se um homem, "traímos" o nosso pai. 
Sobre o assunto, Pommier declara "A vida amorosa do ser humano tem como ponto de partida a infância e o desejo sexual guarda a memória desses primeiros arrebatamentos até ao momento em que é preciso romper com os laços familiares". A infidelidade da vida adulta tem assim origem no carácter de duplicidade e cimenta-se em limites interiores que têm de ser derrubados para a união plenamente satisfatória e funcional com outro ser.  
O psicanalista destaca, entre as várias formas de infidelidade, a infidelidade psíquica: a necessidade de fantasiar com outra pessoa (conhecida ou não) para poder desfrutar da sexualidade com um parceiro. Como factores dessa situação, o escritor aponta para a redução dos elementos do casal ao papel de progenitores, aquando do nascimento dos filhos. A infidelidade torna-se um filtro, a partir do qual se deixa a família de origem para obter realização afectiva e prazer sensorial. 
Gérard Pommier teoriza que ao ter-se um amante, se regressa inconscientemente aos primeiros laços amorosos. Procurar um ideal impossível, mesmo que este seja fonte de sofrimento, é apontado como uma das razões para a traição.
Ao envolverem-se com homens casados, as mulheres repetem o abandono paternal (cujo amor não podiam ter). Para os homens o fascínio incide na conquista, sentem-se atraídos por mulheres inatingíveis, que perdem o interesse ao tornarem-se acessíveis. Estes padrões repetem-se consecutivamente e são uma ignição de memórias psíquicas profundas e por isso muito difíceis de serem analisadas e dissecadas. 
Nas relacionamentos saudáveis e de fidelidade bem vivida, Gérard Pommier considera que a infidelidade é apenas um fantasma e traz mais intensidade para um envolvimento revestido de uma identidade particular e suficientemente "poderosa e única".

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