A Queda de Ícaro



Uma das histórias mais interessantes da Mitologia Grega, a mito de Ícaro fala-nos sobre a imprudência e os perigos da ambição desmedida, ignorando as respectivas consequências. 
Em linhas gerais, Ícaro era um jovem, filho de Náucrete (uma escreva de Persefone) e de Dédalo (descendente de Zeus). Este último após matar o sobrinho, Talo,  fugiu para a ilha de Creta, levando consigo o filho. Na ilha, Dédalo começou a trabalhar para o rei Minos, tendo construído o famoso labirinto onde foi aprisionado o Minotauro (filho da rainha Pasífea, esposa do rei com um touro), que precisava de ser alimentado diariamente com carne humana (sete rapazes e sete raparigas). Após a morte do Minotauro, sob as mãos do jovem Teseu, Minos responsabilizou Dédalo pelo crime e decretou a sua prisão perpétua, juntamente com Ícaro, dentro do labirinto.
Dédalo era um inventor exímio e criou umas asas, com penas de aves, para que ambos pudessem escapar da ilha. Porém, avisou a Ícaro para não voar demasiado baixo para não se precipitar no mar nem demasiado alto, já que se ficasse demasiado perto do Sol, a cera que prendia as asas iria derreter.
Este não seguiu os conselhos do progenitor (que escapou e refugiou-se na ilha da Sicília) e acabaria por cair, fatalmente, no mar Egeu. Dédalo iria perder para a capacidade criadora e passou a sua velhice ensinando o que sabia aos seus discípulos, em solidão e resignação.
O mito de Ícaro ilustra componentes vitais da personalidade humana: a aspiração de subir mais alto, de conseguir atingir um estado de libertação pleno; de voar na perfeição do Céu. Contudo, nem sempre esta prática tem os melhores resultados, se se perder a consciência de onde se vai e porquê, a queda pode ser desastrosa.
Ícaro personifica a ingenuidade, a curiosidade da juventude, a insensatez de alguém demasiado jovem, ingénuo, que se deslumbrou com facilidade pela beleza das nuvens; erro que pagou com a vida. As reacções a esta tragédia são de distintas interpretações. No quadro “Paisagem com a Queda de Ícaro” de Pieter Bruegel (1558) contemplamos um cenário em que a tragédia de Ícaro é ignorada pelas duas figuras retratadas, demasiado preocupadas com os seus animais e absorvidas no seu quotidiano. Se há uma indiferença incontornável neste retrato, na “Lamentação por Ícaro” de Herbert Draper vemos um grande sofrimento pela perda precoce do jovem incauto, inocente e na flor da idade.
Desta história podemos retirar a moral de que é preciso sonhar, de que o céu pode ser limite (afinal Dédalo consegue voar com sucesso) e que é preciso ter imaginação, força de vontade e ousadia para superar obstáculos e chegar ao outro lado dos problemas, da nossa própria escuridão. Contudo, há sempre limites que nos devem guiar, não é possível escapar em definitivo da realidade porque teremos sempre de voltar a pisar o chão, a submeter-nos às leis da gravidade, da sorte e do azar, da vida e da morte. A lição maior que daqui se extraí é que o corpo precisar de asas para voar mas a alma não. Nunca é demasiado tarde para abrir mão das preocupações desnecessárias, dos fardos demasiado pesados e permitir que a verdade e compassividade nos libertem.



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