O doce e o amargo da vida

Quanto mais doce se torna o nosso dia, mais amargo pode ser o seu interior. Há sempre uma ponta de melancolia em tudo, mesmo nos tempos mais alegres algo fica para trás que não é aproveitado e se perde para sempre no reino sideral das oportunidades. Se a lei da atracção funcionasse tão perfeitamente como proclamam os livros de auto-ajuda veríamos todos a passearam-se radiantes, com tudo o que desejavam e a galáxia brilharia num mundo de prazeres em que ninguém faria algo desagradável e custoso e tudo seria fácil, sereno e doce. Será que a vida assim seria sempre um sonho ou não se transformaria num pesadelo, com pessoas transformadas em manequins assutadores de tão equilibrados e impecáveis, sem um vestígio das angústias e incertezas que caracterizam a espécie humana?


A verdade é que quando menos esperamos a vida nos atira bolas curvas que nos apanham desprevenidas e não sabemos como driblar, a torrada cai no chão com a manteiga para baixo, fazemos asneiras e não sabemos como remediá-las já que tudo o que poderia correr de errado, correu. De forma estrondosa e perturbadora enganámo-nos e temos de aceitar o limão amargo da derrota. Fica dependente da nossa força para dar a volta por cima a capacidade de fazer uma limonada apetecível com ele.

 
Só nós podemos transformar as nossas lágrimas em gotas temperadas de determinação e escolher não ser mais um que não se consegue levantar, que prefere ficar paralisado com uma tristeza certa do que tentar e nunca conseguir.  
Os desafios no caminho permitem-nos comprovar a força da nosso carácter da mesma forma que exercitar os músculos do corpo o tornam mais forte. As provações moldam a nossa alma como ferro e fazem com quem ela nunca se esqueça do calor dessa chama e da maneira como foi transformada em algo melhor por esse processo. 
Por isso, importa ser capaz de enfrentar de frente o que fizemos de mal, engolir por vezes o orgulho e deixar de lado a vergonha. Não precisamos de nos esconder porque quem nos ama entende-nos muitas vezes sem precisarmos de justificar as nossas malagradas acções ou pedir desculpa por não sermos capazes de ser aquilo que esperaram de nós.


A redenção é doce e é o único mel duradouro da vida porque é feito da humildade das nossas veias e da adesão completa da vontade. À compreensão plena do que se pode mudar e do que não se pode mudar e a coragem para querer fazer a diferença. Somos como bolos feitos de múltiplas camadas e sabores, que no final deixam um sabor doce na boca, porque a aprendizagem ao longo da vida, para o bem ou para o mal, foi sempre enriquecedora como o mais puro e nutritivo mel.

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