Fidelidade

Às vezes um momento pode ser suficiente para mudar o curso da nossa vida: uma palavra, um gesto, uma expressão que nos mova e faça olhar mais acertamente para o que nos rodeia. Com profundidade e também com menos egoísmo, pelas asas de um sentir diferente, em que a exaltação infantil é posta de parte e substítuida pelo que é justo e belo de ver e saber. 
Por vezes as coisas podem ser mais simples do que pensamos e basta saír da nossa zona de conforto, da nossa concha no fundo de um mar de preocupações para entender que o medo é só uma palavra de quatro letras e a coragem e bravura falam muito mais alto do que ele. Ouvem-se vozes na cabeça a ditarem diferentes posições, como várias crianças a puxarem a mesma corda e não sabemos para que onde nos dirigir, se partir ou ficar. E fechamo-nos no nosso escudo tão seguro mas tão oco outra vez. 
Chega a enloquecer pensar em tudo o que poderia ter acontecido "se" isto ou aquilo não se tivesse passado poderíamos ter mais ou ser mais... Raramente pensamos que podíamos não ter aprendido o que sabemos agora e estarmos bem menos preparados para as lutas diárias do que o estamos neste exacto momento. Por que as pessoas aprendem num processo de tentativa-erro e não é humanamente possível vencer sempre em todas as frentes de batalha. E o amor é a mais complicada, mais arriscada mas também potencialmente recompensadora delas todas.
Protegemos o coração para que este não seja partido, para que não gastarmos energias com um amor em vão, para não desgastarmos languidamente os nossos recursos mentais e emocionais; para preservarmos a esperança de que não tenhamos nunca de arriscar nem saltar alto para sermos felizes. Como se fosse possível uma grande satisfação sem uma grande dedicação a acompanhá-la... Se apenas nos contentarmos em sobreviver e cumprir as horas laborais do pão nosso de cada dia como poderemos algum dia ser mais, ambicionar céus azuis e tardes inesquecíveis? Como podemos amar alguém se não amamos a nossa vida o suficiente para a transformarmos no melhor que conseguirmos?
Temos de nos recordar que o que fica quando nos depararmos com o leito da morte são as palavras doces que dizemos, as acções boas que realizámos, os abraços apertados, os beijos sinceros, o caminhar mão na mão. Se queremos fazer e guardar memórias assim temos de ter fidelidade básica ao amor quando o encontrarmos. E mais do que fidelidade, temos de tomar o coração nas mãos para pedir desculpa e perdoar, para compreender as fases boas e más, para exercer tolerância e lealdade. E se não conseguirmos ser fieis a alguém, pelo menos que nunca abandonemos quem somos, as nossas visões e sonhos para o futuro; que sejamos fieís a nós próprios.


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