Lótus

Os últimos meses foram marcados por conflitos e tumultos, de destacar aqueles ocorridos na faixa de Gaza e mais recentemente no México com o assassínio de um cantor e político local ao que tudo indica por quarteís de droga. Se juntarmos a isso todos aquelas crónicas de opinião relatando os poucos progressos mundiais no que respeia a sair da crise económica, as críticas cerrradas ao pacote de medidas de austeridade do Governo e a comparação desta depressão financeira com a Grande Depressão de 1929, temos todos os ingredientes para fazer uma sopa de pessimismo e desânimo. Sim, há uma percentagem preocupante de portugueses a viver no limiar da pobreza, portugueses desempregado ou em vias de perder casas ou carros e é muito díficil mudar um cenário que se afigura tão negro. Mas se apenas olharmos para um lado da tela, não conseguiremos ver que a outra parte, a mais brilhante continua a existir, apesar de tudo. Tal como sempre existiu. Mesmo que nos sintamos atolados em lama até ao pescoço, temos de fazer um esforço para sair dela e para não deixarmos que essa recordação posterior tome conta de nós e nos impeça de sonhar e de nos sentirmos entusiasmados com as coisas que realmente valem a pena. Torna-se demasiado fácil congelar as emoções, cedendo ao medo de falharmos e errarmos novamente. De voltar à estaca zero, sem o mínimo sinal de progresso. Por vezes podemos andar em círculos, podemos perder o que tão arduamente batalhámos para conquistar mas de alguma maneira, nenhuma acção é em vão, nada se perde porque nos transforma em alguém diferente, melhor. Por mais cliché que possa soar, as dificuldades por vezes ensinam-nos uma lição que estavámos destinados, mais cedo ou mais tarde a aprender. Pode ser dura e amarga mas é uma experiência verdadeira do mundo e nada pode pagar aquilo que conhecemos sem interferiências de terceiros, por nós próprios.
A lótus é uma flor sagrada para os budistas, cujas raízes se desenvolvem na lama e os caules crescem alguns centímetros acima da água, florescendo à luz do sol. O padrão de vida desta planta simboliza, segundo eles, o curso da vida humana desde a lama do materialismo, até à água da experiência e a luz que é a iluminação/conhecimento. As dificuldades não deveriam fazer deste mundo um lugar mais desolador e intolerável, deviam contribuir para criar uma estrutura bela e forte. Depois de suportarmos mais dor do que julgávamos ser possível e de olharmos o mal no rosto, talvez o maior feito que consigamos alcançar a nível humano, seja manter uma visão de inocência que nos for ainda possível, de ainda acreditar, não em utopias, mas de que é possível haver num pouco mais de paz, de compreensão e de amor no mundo.

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