"Tudo o que o amor não é" de Eduardo Sá

 


Eduardo Sá é um dos mais renomados psicólogos e psicanalistas portugueses, professor da Universidade de Coimbra e do Instituto Superior de Psicologia Aplicada em Lisboa. Tem uma vasta experiência no acompanhamento de fetos, bebés, crianças, adolescentes e das suas famílias.
Nesta obra "Tudo o que amor não é", de 2003, o autor fala-nos na diferença entre desejo, paixão e amor. Desde à atração física ao interesse pela pessoa em si até à construção de um projeto de vida em comum, Eduardo Sá traça com ternura e perspicácia um retrato dos territórios da emoção, com frases maravilhosas como "Não é verdade que no coração existam quadro cavidades. Na verdade, o coração divide-se em tantas assoalhadas quantas as pessoas que ocupam um lugar dentro de nós" ou a minha favorita na crónica "Somos mais um céu do que uma estrela" que nos diz o seguinte: "E somente quando, dentro de nós, podem conviver muito «boas estrelas» nos tornamos, à escala do universo, menos insignificantes, se dissipa a poluição com que alimentámos o nosso pensamento, e se ilumina tudo aquilo que tanto escureceu o nosso céu". 
Gostei de imediato do título do primeiro capítulo "Doutor bebé" que remete para o facto de os bebés nos ensinarem tanto quanto nós ensinamos a eles. Na parte dedicada à adolescência, Eduardo Sá expõe as suas ideias em crónicas como "Pecar não é pecado", "Devolva-se a escola todos os recreios" e na entrevista apropriadamente intitulada "A disciplina faz mal à saúde". O psicólogo e escritor defende a importância de educar para os afetos, de falar de amor na adolescência e não só da sexualidade, de dar aos jovens espaço para a brincadeira e lazer e não passar a mensagem que a vida gira em torno do trabalho e posses materiais. Eduardo Sá defende que "a disciplina é uma casa que se começa pelo telhado" e que educar não é domesticar, ou seja que a criança deve ser estimulada a ser criativa e a pensar.
"Tudo o que o amor não é" debruça-se sobre quem somos mas também quem podemos ser, se tentarmos mudar, sem medo de cometer erros, com paixão por viver com intensidade. O amor pode ser uma obra de arte se nos dedicarmos a ele com compromisso e entrega todos os dias e se namorarmos não só com quem está ao nosso lado, mas acima de tudo com a vida.
Adorei este livro e recomendo vivamente a sua leitura.

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