Angelina Jolie: "O povo do Afeganistão merece muito melhor do que isto"

 


Com a tomada de Cabul pelos talibãs a 15 de Agosto, receia-se que o Afeganistão entre em retrocesso e se percam todas as liberdades civis fundamentais que tinha conseguido obter.
No dia 20 de Agosto a atriz, realizadora e humanitária Angelina Jolie publicou um ensaio no The New York Times intitulado "The people of Afghanistan deserve so much better than this" (O povo do Afeganistão merece muito melhor do que isto, em tradução livre).
Angelina começa por dizer que a guerra no Afeganistão não devia ter acabado assim e abandonar "os nossos aliados e apoiantes depois de tantos anos de esforço e sacrifício, da maneira mais caótica imaginável, é uma traição e um fracasso difícil de compreender".
Recorda os militares que conheceu na base aérea de Ramstein, que perderam membros a lutar contra os talibãs e referiram sentir-se orgulhosos por ajudar o povo afegão a recuperar direitos e liberdades. Recorda as mais de cem pessoas mortas no distrito de Cabul em ataques que visavam meninas em idade escolar, só no último ano. Recorda ainda os assassinatos de mulheres a sangue frio que triplicaram em 2020.
Num país em que nos últimos 20 anos as meninas arriscavam a vida a ir para a escola e as mulheres advogadas, juízas e polícias eram potenciais alvos a abater, o medo do futuro instala-se nas crianças e adolescentes afegãs, nos ativistas, jornalistas e artistas que estão agora escondidas ou em fuga, tentando manter-se a si e às suas famílias a salvo.
Angelina Jolie critica a postura norte-americana: "Eu, como milhões de americanos, depositei a minha fé e confiança em governos sucessivos que nos disseram que estavam no Afeganistão para proteger o nosso país e apoiar um novo estado democrático afegão. Enquanto americana estou envergonhada pelo nosso abandono. Diminui-nos".
Com a retirada da presença dos EUA na região, como ajudar a sociedade civil e as mulheres afegãs, garantindo que são respeitadas, que podem frequentar a escola, que não são confinadas a casa e não são castigadas duramente sempre que acharem que elas passam dos limites? São exemplo disso práticas como os chicoteamentos públicos.
Neste momento tão obscuro para a Humanidade, Angelina diz-nos que enfrentamos uma nova crise de refugiados e um número recorde de deslocados (cerca dos 80% deslocados afegãos são raparigas e mulheres). 
Sem um plano coordenado de saída, os EUA perderam uma vantagem estratégia na região, o que apenas vem agravar este problema humanitário. Aceitar estas pessoas é importante, na opinião de Angelina, mas também o é não recuar nas liberdades conquistadas. "Em vinte anos que trabalho em assuntos de refugiados tenho visto o padrão de países ocidentais entrarem num país e depois saírem repetidamente, incluindo o Iraque e agora o Afeganistão. O número de pessoas deslocadas globalmente pelo conflito e perseguição aumenta e os agressores responsáveis por violações e massacres saem em liberdade, sem serem responsabilizados". 
Angelina Jolie elogia profusamente os afegãos que trabalharam para melhorar o seu país nos últimos vinte anos, sobretudo raparigas e mulheres que mostraram capacidades, valor e coragem e que estão neste momento sob a mira dos talibãs: "Vocês merecem muito mais que a situação que estão agora a enfrentar. Qualquer futuro governo afegão não devia ser julgado apenas quanto à sua atitude relativamente ao terrorismo, mas ao seu comportamento relativamente aos direitos humanos e em particular se as mulheres e raparigas afegãs mantêm os direitos que conquistaram", concluiu.

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