Instant crush
"Instant crush" é uma canção do duo francês de música electrónica Daft Punk com a participação do cantor norte-americano Julian Casablancas. Foi lançada em 2013 como parte do quarto álbum de estúdio da dupla "Random access memories".
Pessoalmente, tenho ouvido muito a versão da cantora e compositora australiana Natalie Imbruglia lançada em 2015, como primeiro single do seu álbum de covers masculinas "Male". Adoro a interpretação delicada e sentida da voz de Natalie, a roupagem mais acústica, crua e orgânica que foi dada à música, que permite perceber a letra com mais clareza.
Pessoalmente, tenho ouvido muito a versão da cantora e compositora australiana Natalie Imbruglia lançada em 2015, como primeiro single do seu álbum de covers masculinas "Male". Adoro a interpretação delicada e sentida da voz de Natalie, a roupagem mais acústica, crua e orgânica que foi dada à música, que permite perceber a letra com mais clareza.
A história que narra "Instant crush" pode ser interpretada de diferentes formas, na medida em que as palavras assumem muitas vezes o sentido que lhe queremos dar. Vou tecer algumas reflexões sobre o tema, em nenhuma ordem em particular, com os pensamentos que a música desperta em mim.
Comecemos pelo título. Em português significa paixão instantânea, alguém por quem sentimos uma atração imediata. De facto, há pessoas que sem percebemos como nem porquê nos fazem gravitar em torno delas e colocá-las num pedestal quase como que automaticamente. Que assumem um poder desmesurado nas nossas vidas mesmo tendo feito pouco ou nada para o merecer.
No pré-refrão Natalie canta "Eu ouvi os teus problemas, agora ouve os meus. Eu não queria mais". Numa relação amorosa, muitas vezes podemos ser calculistas em nome do tão proclamado equilíbrio entre dar e receber, como se o amor e a reciprocidade pudessem ser medidos como fieis numa balança. É um dos motivos porque muitas das relações se desmoronam: os casais estão tão consumidos por vidas corridas e cheias de stress que deixam de ter paciência para olhar realmente um para o outro, para perceber as suas necessidades, para escutar realmente e conceder a dádiva mais preciosa de todas na modernidade: o tempo. Facilmente surgem ressentimentos e amarguras que quando não expressas atempadamente vão corroer os laços afetivos e fazê-los implodir, mais cedo ou mais tarde.
"E nunca mais estaremos sozinhos novamente/Porque não acontece todos os dias". É uma das coisas mais dolorosas numa rutura: saber que o que é passado não volta mais e que se perdeu algo que era mágico e único no mundo, potencialmente transformador. Que se perdeu por negligência, cansaço, falta de compromisso, de espírito de sacrifício, de atenção: por mil e um motivos. Que o que foi não voltará a ser. Refugiamos-mos na ideia de que podemos continuar a ser amigos dessa pessoa mas é sempre uma ilusão porque o que realmente precisamos dela já não está lá. O mais difícil é simplesmente deixar tudo de lado e afastarmos-mos.
"Ele vê através de mim, é tão fácil com mentiras/Fendas na estrada que eu tentaria disfarçar". É algo ilustrado no vídeo de Natalie Imbruglia em que numa estética dos anos 50, ela faz o papel de esposa perfeita a tentar servir um jantar maravilhoso ao seu marido, que descobrimos rapidamente ser um manequim de plástico, que personifica a apatia sem vida, de muitos casais cuja relação se baseia em aparências quando na verdade está por um fio.
"Mil estrelas solitárias a esconder-se no frio. Toma, eu não quero cantar mais". Chega a um momento que nos esforçámos tanto por dar o melhor de nós sem ter o resultado pretendido, que ficamos completamente exaustas e drenadas como um poço que não contém mais água. Não somos capazes de mais e percebemos que efetivamente nada mais pode ser feito.
"Instant crush" é um tema que transmite uma mensagem forte em diferentes níveis. Nem sempre as pessoas que desejamos são as certas para nós, nem sempre os momentos bons foram feitos para durar e mesmo aquilo que jurámos ser eterno pode desfazer-se em cinzas. Tudo o que podemos dizer é que mesmo não sabendo exatamente por onde ir, continuámos em frente, mesmo depois de lava se ter transformado em gelo persistimos com os sonhos bonitos que tínhamos na cabeça, com lembranças frescas que se tornaram feridas, cicatrizes no nosso coração enorme.
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