Ageísmo: Cher, Madonna e Jennifer Lopez

Por ageísmo entende-se a discriminação das pessoas mais velhas, alicerçada em preconceitos relativamente ao envelhecimento.
Envelhecer graciosamente significa coisas diferentes para pessoas diferentes, pelo que impor o que alguém deveria ou não fazer consoante a faixa etária em que se encontra é extremamente limitativo e mesmo castrador.
Estamos a perder histórias valiosas ao não darmos às mulheres mais velhas um lugar na mesa, quer seja nas decisões de uma empresa, na indústria cinematográfica ou musical.
Percebemos que as expetativas e mentalidades conservadoras ainda são muito frequentes, havendo uma construção social em que as pessoas se sentem no direito de opinar sobre a vida dos outros, abdicando da compreensão e empatia para fazer julgamentos ferozes baseados nas suas próprias noções pré-adquiridas.
Ser mulher deve pressupor liberdade de escolher como vivemos a nossa vida independentemente de termos 20, 30, 40 anos ou mais. Características como experiência, maturidade e sabedoria deveriam ser mais apreciadas numa cultura que exalta a juventude e tem um medo profundo de envelhecer.
É preciso equilibrar os pratos da balança, para que a igualdade da mulher face ao homem se faça desde a base até a todos os estratos etários, o que num mundo em que a esperança média de vida aumenta cada vez mais, faz mais sentido do que nunca.
Trouxe aqui três exemplos de mulheres que considero destemidas, que estabelecem tendências e que nunca desistem de se sentir realizadas e felizes.



Cher, atualmente com 74 anos, é uma das artistas com uma das carreiras mais vibrantes e duradouras de que temos conhecimento. Desde os meados nos anos 60 quando se lançou ao lado do parceiro Sonny no clássico "I got you babe" até os discos a solo, as roupas ousadas do seu estilista Bob Mackie, aos programas televisivos, digressões fulgurantes, a transição para o cinema.. os seus feitos são demasiado extensos para conseguir enumerá-los a todos. Incluem um Grammy, um Emmy, três Globos de Ouro, um Oscar (em 1987 por "Moonstruck" (O Feitiço da Lua) e ainda o recorde de ser a artista mais velha a ter um single no topo da tabelas musicais da Billboard com "Believe", quando tinha 52 anos de idade.
Cher sempre viveu a vida nos seus próprios termos, indiferente às críticas sobre o que vestia ou aos seus relacionamentos. Em 1986 assumiu a relação com Rob Camiletti, que na altura tinha 22 anos e ela 40, com uma diferença de idades de 18. Falando sobre o romance que terminou em 1989, sob intenso escrutínio público, Cher limitou-se a dizer "Gravitamos em torno das pessoas à volta das quais gravitamos".
Recentemente Cher revelou ter sido vítima de insultos discriminatórios na sua manhã de aniversário de 40 anos, por parte deGeorge Miller, realizador de "As Bruxas de Eastwick", que lhe disse "Eu só quero telefonar-te para te dizer que não te quero no meu filme e que o Jack Nicholson e eu pensamos que és demasiado velha e não és sexy. Odeio a maneira como caminhas. Odeio a maneira como falas, não gosto da cor do teu cabelo, não gosto dos teus olhos". Cher não deixou que estas duras palavras a demovessem e acabou por fazer o filme na mesma.
Sobre a discriminação que sofre até aos dias de hoje afirma: "Não tenciono afastar-me. Esta é a primeira geração que disse: Não vamos rolar para o lado e fingir que estamos mortos porque temos uma certa idade".
Cher sintetiza o seu espírito resiliente "Alguém disse uma vez: "A única coisa que restará depois de um holocausto nuclear é Cher e baratas e acho que isso é engraçado porque eu sou uma sobrevivente. Se sou alguma coisa, é isso que sou".





Madonna, um dos maiores ícones musicais e culturais do nosso tempo, é uma das figuras públicas que mais tem sofrido de ageísmo. Atualmente com 62 anos, símbolo de irreverência e sexualidade, Madonna não mostra sinais de querer abrandar. Conhecida por ser provocadora, os seus questionamentos têm sempre uma mensagem inerente quer seja sobre religião, tabus sexuais ou a própria condição da mulher na sociedade.
Ao The Cut, por ocasião do lançamento sua linha de cuidados de pele, MDNA Skin, Madonna falou abertamente sobre ser discriminada em função da sua idade e como encara a passagem dos anos: "É sobre mantermos-mos curiosas, ativas e trabalharmos em nos sentirmos bem, quer seja através de exercício, cuidados com a pele, etc. Não há regras. É uma ideia obsoleta e patriarcal que uma mulher tem de parar de ser divertida, curiosa, aventureira, bonita ou sexy depois dos quarenta. É ridículo. O que atravesso agora é ageísmo, com as pessoas a rebaixarem-me ou a fazerem-me passar um mau bocado por namorar homens mais novos ou fazer coisas que são consideradas ser do domínio de mulheres mais novas. Madonna acrescenta que esta não é uma abordagem relativamente a envelhecer mas sim à vida em geral, a de continuar a manter-se ativa, criativa e a trabalhar: a escrever, a viajar pelo mundo, a aprender e a ver as coisas pelos olhos das suas crianças.
Recorde-se que Madonna lançou em 2019 o seu décimo quarto álbum "Madame X", com grandes influências multiculturais, incluindo portuguesas e brasileiras.
A artista resume a sua filosofia desta forma: "Nunca penso que estou a lutar com a idade. Só estou a continuar com a minha vida como sempre fiz. Nunca me tornei complacente. Nunca fiquei confortável. Continuo a colocar-me em posições desconfortáveis e a correr riscos. Mudei-me para Lisboa com os meus quatro filhos. Podia ter ficado em Nova Iorque com a minha vida confortável mas não o fiz. Se continuas a colocar-te em situações novas, desafiantes e aventureiras, isso vai manter-te vivaz e jovial".




Jennifer Lopez é uma das artistas norte-americanas de ascendência porto-riquenha mais bem pagas da atualidade. Com 51 anos, Jennifer encontra-se em excelente forma física fruto de uma alimentação saudável aliada à prática de exercício e as conquistas profissionais continuam: a sua atuação como a stripper Ramona no filme "Hustlers" (2019) foi uma das mais elogiadas da sua carreira e os projetos novos sucedem-se como a sua linha de cuidados para a pele JLo Beauty. 
Para além de atriz, cantora e dançarina, Jennifer assume-se cada vez mais como uma empresária em negócios em nome próprio. Tem a sua própria produtora, por exemplo, Nuyorican Productions, com Elaine Goldsmith-Thomas e Benny Medina.
Jennifer Lopez passou por dificuldades desde a perseguição dos paparazzi aquando da relação com Ben Affleck, ao fracasso comercial do seu filme "Gigli" e do seu album "Brave", o que levou a que algumas pessoas a julgassem uma fora do baralho no mundo do entretenimento. Jennifer deu a volta por cima ao tornar-se jurada do programa "American Idol" e ao lançar o disco "Love?", cujo single de avanço "On the floor" foi um enorme sucesso. Mas, mais uma vez Jennifer recebeu críticas por estar a fazer música de dança e assumir uma imagem cheia de sensualidade num videoclipe passado numa discoteca, ou seja, por ser uma mulher de 42 anos num cenário a apelar à exploração e hedonismo. 
Jennifer Lopez mostra-se indiferente aos detratores e segue o seu caminho brilhante, que incluiu uma atuação na final da Super Bowl, em Fevereiro do ano passado, com Shakira.
Para manter a sua atitude positiva, Jennifer diz que faz afirmações e mantras todos os dias como "Eu sou jovial e intemporal em qualquer idade". "A qualquer ponto, envelhecer vai acontecer mas até lá tu decides o quão forte vais ser. Quanto te vais mover. Quanto vais trabalhar. O quão ativa vais ser na tua mente, na tua vida, no teu corpo. Tu decides. E mantés-te forte. Podes manter-te bem".

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