A paz interior
Ontem assinalou-se não só o primeiro dia do ano mas também o Dia Mundial da Paz. O que significa este conceito num mundo tão polarizado, em que cada vez temos menos paciência para o quer que seja, em que os dias assumem um ritmo cada vez mais acelerado, em que simplesmente deixámos de ouvir as opiniões contrárias?
Quando pensamos em paz, é normal pensarmos nas guerras que ainda proliferam em diversas partes do mundo, mas frequentemente ignoramos as pequenas subtilezas que nos roubam o descanso e é sobre elas que queria refletir hoje. São esses inimigos da mente que considero vital desmontar.
1) Em primeiro lugar a nossa energia porque em última essência é tudo o que somos. Será que queremos investi-la nos mesmos padrões de pensamentos que se transformam em becos sem saída autodestrutivos ou queremos mudar? Agora que virámos um ano no calendário, vamos deixar para trás tudo aquilo que não tem de transitar para 2021, organizá-lo perfeitamente em caixinhas e reconhecer que não nos serve mais. Que crescemos demais, que sabemos mais, que temos coisas mais importantes e produtivas com que nos ocupar.
2) Em segundo lugar, o nosso tempo porque tempo é dinheiro. Temos de saber separar, como ervas daninhas de um jardim, as atividades e experiências que em nada nos acrescentam, que só nos vão trazer mais confusão e caos mental. Temos de usar o tempo precioso de que dispomos para nos realizarmos. Isto pressupõe procrastinar menos o que precisa de ser feito pois ter hábitos mais saudáveis, ao invés de nos engessar rigidamente, vai nos dar margem de manobra para encontrar mais alegria e prazer no nosso dia-a-dia. Afinal o que é preferível: adiar um pouco a sensação de gratificação instantânea, cumprir os seus deveres com tranquilidade e dando o seu melhor, ao fazer tudo às pressas com uma sensação de culpa permanente e angústia? Os bons hábitos são como guias que nos vão orientar e permitir usufruir de maior liberdade posteriormente. É uma troca justa.
3) Dar ao dinheiro a importância que merece, isto é, não ficar obcecada com ele ao ponto de só pensar nisso nem ter tanta fobia de pensar nas suas finanças que nem faz ideia de quanto dinheiro tem. O dinheiro vai e vem, é uma verdade da vida, mas temos de o saber gerir e adotar desde cedo uma mentalidade de poupança, não sendo facilmente manipuláveis e impressionáveis pela sociedade. A publicidade existe para inventar ou amplificar necessidades, fazendo-nos sentir que não somos suficientes da maneira como estamos e precisamos de adquirir determinado bem material para sermos felizes. Basta olhar para anúncios de marcas de cosmética ou de pasta de dentes para nos sentirmos imediatamente inferiores. Não há nada de errado em tentarmos melhorar a nossa aparência física e comprarmos coisas de que gostamos, desde que o façamos com conta, peso e medida. E que nos lembremos que devemos possuir as coisas e não deixar que elas nos possuam a nós.
4) Diga adeus às relações tóxicas de vez, pois quando não o faz ver-se-á preso num círculo vicioso, num dilema feito de algos e baixos, em que o coração quer exatamente a pessoa que mais o magoa. O amor não deve rimar com dor e se é isso que é o que sente, é porque está a viver uma história disfuncional e possivelmente de codependência e não de afeto genuíno. Quando rompemos com essas tendências, abrimos espaço para encontrarmos pessoas mais certas para nós, o próprio ar torna-se mais respirável porque não vivemos oprimidos pela incerteza de não saber se será um dia bom ou não. Quando aprendemos a ter um amor próprio sólido e forte, não deixamos facilmente que alguém nos estrague o dia e certamente não nos contentamos com as migalhas que nos cedem. Sabemos que merecemos o bolo todo.
5) Sinta gratidão por tudo o que tem, sejam coisas materiais ou imateriais e saiba que quando o faz, amplia todo esse vasto céu de possibilidades, torna-se mais leve, mais capaz de sonhar e com mais esperança. Afinal, não quer perder a lua a olhar para as estrelas. Brilhe de dentro para fora, a verdadeira paz está ao seu alcance!
Pessoalmente, encarei com bastante otimismo esta passagem do ano, que vejo como 365 dias novinhos em folha que me dão a oportunidade de fazer as coisas certas, de executar transformações graduais e acima de tudo, seguir na minha senda de contínua aprendizagem.
A minha paz interior passa por dedicar a minha energia ao que me faz crescer, em ocupar o meu tempo de forma proveitosa e gratificante, de tentar ter uma relação mais saudável com o dinheiro, de me libertar de tudo o que me atrofia o avançar mental e espiritual. Porque é do espírito que a paz interior se trata. Valorizo mais do que nunca a minha saúde em todas as suas vertentes, tudo o que tenho a sorte de possuir na minha vida e sinto muitas vezes um contentamento que nada tem a ver com emoções fortes e avassaladoras, mas é sim uma voz interior de calma e de propósito que me diz que estou a agir de acordo com os ditames da minha consciência. Que me diz que quando me esforço consigo bloquear o ruído negativo e que me distrai das minhas metas. Que me diz que estou inteira e estou em paz.
Crédito da foto: https://unsplash.com/photos/6IEQbHTWlEQ
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