Whitney Cummings: "Can I touch it?" e "I'm fine... and other lies"



Whitney Cummings nasceu a 4 de Setembro de 1982 em Washington D.C. e é uma comediante, atriz, produtora, guionista, realizadora e escritora norte-americana. Tem ainda o podcast "Good for you". A sua lista de feitos, aos 38 anos de idade, é realmente impressionante e inspiradora e não mostra sinais de abrandar.
Entrei em contacto com o seu trabalho através do filme "The female brain" (2017) que ela adaptou do livro homónimo de Louann Brizendine e protagonizou, co-produziu e realizou. Seguiu-se o seu especial de comédia stand up da Netflix "Can I touch it?" (2019).




"Can I touch it?" começa por fazer referência ao movimento #Metoo, falando da necessidade de haverem barreiras físicas no local de trabalho, ou seja, para que os homens não toquem nas mulheres sem a sua permissão, mesmo que a pretexto de uma demonstração de afeto. 
De seguida, Whitney fala-nos um pouco da sua jornada pessoal, desde problemas de autoimagem que se transformaram numa desordem alimentar na adolescência e começo da idade adulta, lidar com assédio sexual no início da carreira e dos estereótipos que existem no meio profissional em relação a homens e mulheres. 
A última parte do espetáculo centra-se na pesquisa que ela fez sobre brinquedos sexuais e nas vantagens que vê em criar-se um robot à nossa imagem e semelhança, que pudesse libertar-nos de algumas das nossas responsabilidades, nomeadamente a lida da casa. Whitney Cummings chega a fazer subir ao palco a robot Whitney, criada a partir dela mesma, para mostrar que não temos de recear a inteligência artificial e que estas máquinas podem vir a auxiliar-nos muito no futuro.
Neste especial de stand up, sempre num registo de comédia intimista, mordaz e ocasionalmente de crítica social, Whitney Cummings afirma-se em definitivo como uma mulher única, multifacetada e uma das vozes mais engraçadas e singulares da sua geração.



O primeiro livro de Whitney Cummings "I'm fine... and other lies" (2017) é uma narrativa de componente autobiográfica, cheia de confissões reveladoras, num tom cândido e pleno de uma refrescante e corajosa vulnerabilidade.
As referências à Psicanálise são latentes logo na capa que nos fazem lembrar os dizeres de Freud que a mente consciente é apenas a ponta visível do icebergue. Por detrás de uma aparência sorridente e aparentemente bem resolvida, escondem-se muitas vezes problemas, uma vida atribulada, frustrações e traumas. Whitney mostra que está muito longe da perfeição e abre-nos sem pruridos os capítulos da sua vida desde a família disfuncional (nas suas próprias palavras), os primeiros trabalhos e a luta por construir a sua carreira e ter uma vida pessoal preenchida, equilibrada e saudável. 
Uma das passagens mais memoráveis do livro é quando Whitney partilha as suas reflexões acerca de atuar no Médio Oriente e os padrões de beleza culturais: serão as mulheres do Ocidente, sem a imposição de usar véu, realmente mais livres do que as islâmicas? É uma questão que Whitney deixa no ar e no faz pensar em como muitas de nós vivem escravas da beleza, em dietas rígidas e numerosos procedimentos estéticos para ter o corpo e o rosto com que sonharam ou aquele que pensam que irá agradar à sociedade.
Ao partilhar situações humilhantes, baixa autoestima, medos, inseguranças e episódios de co dependência, sempre com honestidade e humor, sentimos-mos próximos da essência de Whitney Cummings: de uma pessoa que como todos nós já cometeu erros e aprendeu com eles, que retira muito da sua noção de valor pessoal do trabalho que é capaz de realizar, que ama o que faz, a sua família e os seus cães, que teve encontros românticos desastrosos mas continua a acreditar no amor, que descobriu muito sobre si mesma através de sessões de terapia e que tem uma grande curiosidade e paixão pelo mundo. 
Através da leitura de "I'm fine...and other lies" ficamos a conhecer melhor toda a vida interior de Whitney Cummings e mal podemos esperar para ver o que ela vai fazer a seguir.

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