Água-viva imortal


Numa conversa há uns meses com o meu sobrinho, ele contou-me que havia um animal biologicamente imortal, o que muito me surpreendeu. Trata-se da água-viva imortal, também conhecida como Turritopsis dohrnii ou medusa imortal.
A água-viva imortal foi descoberta pelo estudante alemão de Biologia Marinha Christian Sommer, em 1988, na Riveira Italiana. Pensa-se que seja originária do Pacífico e que se tenha expandido por meio de migrações trans-árticas. Atualmente localiza-se em regiões temperadas e tropicais como no Mar Mediterrâneo, Panamá, Flórida, entre outras. É uma espécie invasiva, que causa pouco impacto no ecossistema devido às suas pequenas dimensões e é capaz de sobreviver entre 14ºC e 25ºC. 
Passa por dois estágios: fase imatura (ou fase do pólipo) e fase medusa (em que se reproduz de forma assexuada). 
Em qualquer fase do ciclo de vida, por stress ambiental ou traumas físicos, pode voltar para o primeiro estado de vida e formar um novo pólipo, que gera posteriormente cópias genéticas do animal original. Esta capacidade da água-viva se regenerar tão facilmente faz com que este hidrozoário seja investigado nas áreas do envelhecimento e farmacêutica.

A água-viva imortal alimenta-se principalmente zooplâncton (organismos aquáticos que não têm capacidade de fotossíntese) mas também caçam outras espécies de medusas. Na fase de medusa, apresentam forma de sino, células densas de rede nervosa na epiderme da capa. O estômago é relativamente grande e vermelho, com uma forma cruciforme em seção transversal.
O comportamento da espécie varia ao longo do ciclo de vida, sendo que na fase medusa habitam na zona superficial do mar e na fase de pólipo vivem fixados ao substrato.
Biologicamente, numa primeira fase, a Turritopsis dohrnni começa a vida como larva denominada planula, que se vai estabelecer no solo e formar uma colónia de pólipos fixados no fundo do mar, geneticamente idênticos. Depois, os pólipos formam estruturas ramificadas e dão origem a medusas livres com cerca de 1 milímetro de tamanho. Após algumas semanas, as medusas sexualmente maduras produzem ovos que se produzem a partir da fecundação dos ovos presentes nas gónadas das medusas femininas, fertilizados no mar por espermatozoides de medusas masculinas, que são depositados no fundo do mar, renovando o ciclo.
A água-viva mortal é conhecida por poder transformar-se a qualquer momento em pólipo, se houver mudança repentina da temperatura, redução de salinidade e danos feitos na parte do seu sino, por exemplo, o que valeu a denominação de Benjamin Button da natureza. Neste processo de transformação celular, ocorre uma espécie de envelhecimento reverso, em que a água-viva não pode morrer de causas naturais mas sim apenas se for destroçada por completo.
A água-viva imortal já inspirou cientistas a produzirem células-tronco para renovar tecidos danificados ou mortos em humanos e o seu impacto na vida do Homem promete não ficar por aqui.



Comentários

Mensagens populares deste blogue

O talento de Mira

As cicatrizes das famosas

A história de Marla