Não ao racismo
Demorei algum tempo a escrever esta entrada, pois senti que era necessário documentar-me o melhor possível em termos de conhecimento antes de me pronunciar sobre o movimento #Black Lives Matter, que começou nos Estados Unidos da América e rapidamente se alastrou um pouco por todo o mundo.
É uma causa que me diz muito, que no entender se trata da forma como percepcionamos o outro, que tem um tom de pele diferente do nosso. Enquanto pessoa que sempre foi definida como caucasiana, não sei até que ponto usar-se o termo "raça" para definir pessoas de origem africana, não seja, em si mesmo pejorativo, uma vez que o que existe numa pele mais escura, remete-nos apenas à ancestralidade, em que foi preciso produzir mais melanina para se proteger dos raios ultra-violetas, ou seja, foi uma resposta natural aos condicionalismos ambientais, ao sol.
Temos de ter em conta que o progresso económico dos Estados Unidos ancorou-se em muito no trabalho escravo, que a luta pela abolição da escravatura despoletou uma sangrenta guerra civil entre norte e sul. O triste facto é que as leis se mudam mais rapidamente do que as mentalidades e em pleno século XXI ainda vivemos o racismo, o preconceito, a vilificação e inferiorização, mesmo que a nível inconsciente, do que é diferente, do Outro. Continuamos a ter uma perspetiva e forma de ver o mundo muito etnocêntrica, ou seja, achamos que a nossa cultura e modo de vida é melhor do que qualquer outro.
Qualquer informação que possa escrever é certamente muito incompleta pois ainda não estudei a fundo o movimento das Panteras Negras, por exemplo, ou li muitos dos ensaios que nos recomendam nas redes sociais. Só sei no meu coração que temos de reformular todas estas bases estruturais da sociedade que assentam em pressupostos errados. Artistas afro-americanas como Beyoncé dizem muitas vezes que têm de trabalhar duas vezes mais, chamam a atenção para estereótipos e para a falta de representatividade.
É preciso dar oportunidades e mostrar aos jovens negros que é possível ser bem-sucedidos não importa de que condição social sejam provenientes. É preciso dar-lhes ferramentas para que se façam a si próprios e personifiquem o tão chamado sonho americano. Mas para isso é preciso que tudo isto seja verdade.
A probabilidade de afro-americanos serem parados pela polícia é exponencialmente maior do que qualquer outra etnia, pois mesmo sem qualquer tipo de prova a consubstanciá-lo, os polícias vêm jovens negros como sinónimo de "problemas". É preciso educar para a discriminação, para o respeito pelo outro, por dar a hipótese de olhar para cada ser humano como um ser único e irrepetível.
A morte de George Floyd, um homem afro-americano de 46 anos, que morreu asfixiado após uma tortura de oito minutos e 46 segundos às mãos de um policía não é um caso isolado mas esta brutalidade foi como um elemento aglutinador que fez estoirar a panela de pressão de injustiça social. Basta de violência!
Sem ser exaustiva, a lista de vítimas afro-americanas inclui nomes como David McAtee (que estava desarmado), Steven Demarco Taylor (que sofria de doença mental e foi morto depois de já ter sido atingido com um taser, deixando três filhos), Trayvon Martin (de apenas 17 anos de idade), Michael Brown (de 18 anos) ou Breonna Taylor (uma jovem de 28 anos, morta com oito tiros enquanto dormia).
Segundo os últimos dados estatísticos, os disparos fatais de polícias nos Estados Unidos da América têm vindo a aumentar. Até inícios deste mês, falava-se de 420 civis alvejados, dos quais 88 eram afro-americanos. Em termos de disparos fatais, os afro-americanos são realmente os mais atingidos, entre todas as etnias: 30 por um milhão de população. Certamente estes dados dão-nos algo em que pensar.
É preciso transformar toda esta dor que sentimos pela perda de vidas humanas em algo que possa trazer esperança e uma mudança positiva para o mundo. É preciso examinar razões, investir na comunidade enquanto um todo, inspirar as pessoas e agir activamente em prol da igualdade porque quando só assim seremos também mais livres.
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