Damage



"Damage" da artista norte-americana Mýa foi a segunda música que mais ouvi este ano no Spotify. Lançada a 23 de Março de 2018, esta é uma canção de r&b lento, com guitarras eléctricas sobrepostas, que transmitem uma atmosfera de sensualidade mas sobretudo de vulnerabilidade, de falar com honestidade e de coração aberto sobre o que se está a passar.
Talvez a tenha escutado tanto porque resume muito dos meus sentimentos nos últimos tempos, a letra é feita de palavras que poderia ter dito em alguma altura. 
O que fazemos quando o que é mau para nós de certa forma também nos alimenta? Quando o que nos faz sabotar os nossos planos é o que nos dá simultaneamente alento e esperança? Quoid me nutrit me destruit, já se dizia em latim. O que nos nutre, mata-nos, como aliás, a dádiva da própria vida.
O maior dos potenciais estragos para a nossa existência é o amor. Por ele corremos os maiores riscos, aproximamos-nos do perigo como uma criança que sente uma superfície quente e quer saber se queima. Muitas vezes só nos apercebemos tarde demais quando o dano já foi feito e o nosso coração roubado pela tal pessoa.
Uma pessoa que domina com a sua presença ao entrar numa sala, que é aquela combinação perfeita de corpo e cérebro, de prazer e de dor. Que nos prende quando chama o nosso nome, como se não houvesse nada que nos pudesse afastar. 
Uma pessoa que é como uma tempestade calma porque nos olha de forma tranquila mas nos faz adivinhar tantas histórias de inquietude que se escondem por detrás das suas pupilas. Que nos atinge com os seus raios feitos de luz, mesmo sem se aperceber e não sendo essa a sua intenção. Que nos faz perceber que não temos de saber Matemática para perceber que estamos perante um problema, o de querermos mais quando não nos é destinado e que se pudéssemos provar, guardaria-mo-la para sempre. 
Uma pessoa que é como uma arma nas mãos erradas porque não tem noção do seu efeito, do poder que exerce com o seu sorriso.
Antecipamos os danos mas queremos senti-los na mesma porque se for essa pessoa não nos importamos de sofrer e se tem de magoar os sentimentos de alguém, que sejam os nossos. A nós, pessoas demasiado intensas, auto-sabotadoras, sonhadoras e masoquistas até certo ponto. Que se apaixonam por uma miragem do que não existe, que preferem o tudo do amor do que o nada do vazio, que fazem dessa pessoa religião, refúgio mental, o abrigo de todos os problemas. Porque se o que nos nutre destrói-nos, a nossa doença é também a nossa cura.  

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