Mulheres que desafiaram o Congresso



"Mulheres que desafiaram o Congresso" (no original "Knock down the house" é um documentário norte-americano de 86 minutos, lançado a 1 de Maio de 2019 pela Netflix e realizado por Rachel Lears. Centra-se nas campanhas políticas de Alexandria Ocasio-Cortez, Cori Bush, Amy Vilela e Paula Jean Swearengin. As quatro são democratas progressivas que concorreram ao Congresso nas eleições intercalares nos Estados Unidos da América em 2018.
No dia a seguir a Donald Trump ter sido eleito presidente, a realizadora independente Rachel Lears começou a trabalhar neste documentário, cujo financiamento de 28,111 dólares foi angariado pelo Kickstarter. Lears foi às organizações Justice Democrats e Brand New Congress procurar candidatas que não fossem políticas de carreira mas estivessem determinadas a representar as suas comunidades e a servir os seus cidadãos. Que trouxessem os problemas quotidianos deles para o centro das atenções.
Surgem então estas quatro magníficas, todas com histórias de vida emocionantes e muito motivadas a fazer um trabalho justo em prol de todos. 
Alexandria Ocasio-Cortez, nascida a 13 de Outubro de 1989 é de ascendência porto-riquenha e natural do bairro do Bronx, em Nova Iorque. Quando estava no segundo ano na Universidade de Boston, em 2008, o seu pai morreu de cancro nos pulmões e a deixou a braços com o processo legal da herança paterna, permeado de muitas burocracias. Alexandria graduou-se, posteriormente, com honras em Relações Internacionais e Economia. Depois dos estudos, Ocasio-Cortez regressa ao Bronx onde arranjou trabalho como empregada de mesa para ajudar a mãe  na hipoteca da casa, Lançou uma firma de publicação para livros, Book Avenue Press, que retratava o bairro por vezes problemático de Bronx sob uma luz positiva. Também trabalhou para a organização sem fins lucrativos National Hispanic Institute. Nas primárias de 2016 faz campanha para angariar votos para Bernie Sanders.
Cori Bush define-se como uma organizadora comunitária, enfermeira, pastora, activista e mãe solteira negra, com um trabalho que atravessa as linhas culturais, étnicas, de género e religião. Natural de St. Louis, no Misssouri, é co-directora do projecto comunitário The truth telling project, que visa dar voz aos que não a têm e tem trabalhado contra a violência, pelo qual já recebeu inúmeros prémios. Viu em primeira mão a necessidade para melhor representação e legislação para todos e integra a Fegunson Action, um movimento social que usa protestos e resistência para se opor à violência policial nos Estados Unidos e ganhou notoriedade nacional depois do assassinato de Michael Brown, em Fergunson, Missouri, em 2014. No documentário vemos a sua jornada pessoal, a esperança de poder levar ao público uma mensagem que considera maior que ela mesma.
Depois temos Amy Vilela, que entrou na política por causa da morte da filha Shalynne devido à falta de um sistema de saúde universal nos Estados Unidos da América. Esta tragédia foi um divisor de águas na vida de Amy e é  a partir daí que começa a lutar pela assistência pública e programas sociais que sirvam como rede de segurança às populações. "Precisamos de representantes em Washington que percebam o que está em jogo nesta luta e nunca irão parar de defender os interesses das pessoas". A fazer campanha no Nevada, Amy veio de uma família de posses modestas e conseguiu tornar-se uma contabilista bem-sucecida.  No entanto, fez grandes sacrifícios financeiros para poder avançar com a sua campanha e ao vermos como ela dá tudo o que tem a sensação é muito inspiradora.
Paula Jean Swearengin é uma política e activista social e ambiental a fazer campanha no estado de Virginia. Afirma que se outro país envenenasse tanto o ambiente como a indústria de carvão o faz na Virginia já tinha sido desencadeada uma guerra.
Das quatro apenas Alexandria Ocasio-Cortez foi eleita, derrotando Joseph Crowley com a eloquência do seu discurso e o seu carisma. 
Tendo em conta que é exigido tanto às mulheres, quer na política quer em todo o lado (ser bela, falar bem mas sem parecer zangada, não esquecer de sorrir, etc), todos beneficiamos da convicção de que podemos lutar pelo que acreditamos mesmo podendo falhar.
Num país onde as campanhas políticas são financiadas por privados e a tendência é para manter o status quo, estas quatro mulheres que de uma ou outra forma continuam a lutar para concretizar mudanças nas suas comunidades, tiveram a coragem de criar movimentos populares, dependentes de donativos da pessoas em vez das máquinas corporativas.
Marcar a diferença, tentar impactar cada um dos cidadãos mesmo que se tenha de ir de porta em porta, traçar estratégias políticas claras em que se concilie a defesa das minorias com os direitos que devem ser de todos. São esses os pontos fortes das campanhas políticas das mulheres retratadas neste documentário.
Em "Mulheres que desafiaram o Congresso" tudo parece funcionar para nos inspirar e como disse Alexandria Ocasio-Cortez "Para uma conseguir cem têm de tentar".
"Mulheres que desafiaram o Congresso" ganhou dois prémios no Festival de Cinema de Sundance a 2 de Fevereiro deste ano: Festival Favorite Award e U.S Documentary Audience Award.



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