Pede um desejo

Crescemos a aprender que tempo é dinheiro, que não há almoços grátis, que há sempre uma contrapartida para tudo. As experiências negativas muitas vezes endurecem-nos, tornam-nos mais cautelosos e em certa medida, cínicos porque já não acreditamos de coração aberto. Estamos sempre à espera do momento em que seremos desiludidos, em que vamos descobrir que havia segundas intenções por detrás de uma oferta aparentemente tão generosa. O vulgo lado negro da força, existente nalgum grau em qualquer pessoa. 
Diz-se que o poder corrompe, que não é possível subir muito sem abdicar de algumas bases. Pode haver alguma verdade nisso porque na verdade estamos sempre a mudar, a cada dia somos um pouco diferentes do dia anterior, o que vivemos molda-nos. E se o que vivemos é mau, é natural que nos tornemos marcadamente pessimistas porque é essa a realidade que conhecemos e nenhuma outra. Por mais que tentemos contrariar esta corrente, por vezes o estado de espírito não colabora e não conseguimos evitar sentir que nos estamos a arrastar no marasmo dos dias, sem alcançar resultados visíveis que nos encham o coração de entusiasmo.
Nas vésperas do meu aniversário de 32 anos, é comum ouvir à minha volta "Pede um desejo". O que realmente quero não se prende com coisas materiais, apesar de ter mais dinheiro no banco não ser uma perspectiva desagradável. Nesta nova data comemorativa que se aproxima apenas peço cinco coisas:
Saúde para mim e para os meus. Por mais lugar comum que possa parecer, é a minha prioridade na vida e nunca a tomo por garantida porque sei que a segurança em viver não existe. Cada novo dia é de uma imprevisibilidade imediata e total, por mais que se tente planear milimetricamente cada hora, minuto e segundo. Por isso quero brindar sabendo que todos estamos bem, por dentro e por fora.
Coragem para avançar mesmo quando o medo ou a desmotivação se instalam, quando o desânimo começa a ganhar espaço e a escurecer a minha alma.
Imaginação para conseguir sempre sonhar com um mundo melhor e com uma vida mais feliz, mesmo que o presente me esteja a magoar, a testar a minha capacidade de resiliência e a destroçar o coração. Quem consegue visualizar um futuro de sorrisos, tem tudo porque essa alegria já existe, de certa forma, dentro de si e pode levá-la consigo para qualquer lugar.
Paciência para saber reconhecer os meus erros, lidar com eles com força e sabedoria e não me culpar pelas coisas que julgo ser tarde demais para serem alcançadas. Aceitar que vai haver sempre interrogações no meu caminho e "E ses" a que não sei responder, faz parte da experiência de se desenhar sem borracha que caracteriza os seres humanos.
Estar aqui e agora, isto é, saber saborear cada momento e realmente aproveitar o presente, parando de sofrer por antecipação e com preocupações e ansiedades desnecessárias. 
Em suma, acredito que quando realmente nos entregamos à vida ela dá-nos mais do que estamos à espera e esse já é um passo em frente na direcção da nossa felicidade.



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