A mulher que queremos ser




Os nossos sonhos alternam muitas vezes entre os objectivos considerados mais realistas, palpáveis, terra a terra e aqueles que nos dão asas e desprendem os pés colados ao cimento. Os dias podem ser um mero picar do ponto feito do sacrifício (que implica saltar cedo da cama e executar um número infindável de rotinas em modo de piloto automático) ou podem ultrapassar os limites rígidos marcados pelos ponteiros do relógio e tornar-nos pessoas melhores, mais livres, mais receptivas ao conhecimento e à vida. Porque o que é o tempo se não for saboreado a cada segundo, de coração aberto, em pleno?
É tão fácil sentirmos-nos desgastadas, vazias, sem controlo sobre o que fazemos e sem poder nenhum para mudar o que quer que seja nas nossas vidas. Dominadas por pensamentos negativos e até mesmo auto-destrutivos, por dúvidas e inseguranças, por medos, por insatisfações várias, por frustrações que calamos no fundo da garganta quando queremos gritar bem alto. 
Seja com a imagem que nos devolve o espelho, seja com os relacionamentos que vamos tecendo como teia de aranha e cuja qualidade reflecte o nosso estado de espírito, é difícil sentir uma sensação de contentamento, leveza e paz nos dias que correm. Parece até uma utopia quando a batalha da sobrevivência já é por si só tão dura, tão feita de pressões e exigências. 
Sentir que não temos ferramentas para erguer uma fundação em que a nossa identidade possa habitar. Sentir que não temos forma de preencher um espaço cheio de nada. Sentir que nada é capaz de iluminar as nossas sombras. Tudo isto é legítimo numa sociedade que nos pede a perfeição, que equilibremos diversos pratos numa balança como a Super Mulher e que sejamos excelentes nos mais variados domínios, muitos dos quais contraditórios entre si. Competimos entre nós mesmas e fragmentamos-nos, perdemos pedaços do que somos neste processo.
A mulher que queremos ser não é um tudo ou nada, não tem de ser puramente angelical ou absolutamente diabólica, não tem de ser sempre delicada, frágil, passiva. Pode ter elementos como força e assertividade que tradicionalmente se associam ao sexo oposto. O mundo, no geral, precisa de mais feminilidade. Não a que se associa a nível superficial a batom vermelho, saltos altos e mini saia mas à empatia, compreensão e capacidade de amar que uma mulher é capaz de ter.
No vídeo dos N.E.R.D "She wants to move", a dançarina e cantora/compositora britânica Alesha Dixon rouba todas as atenções com um vistoso vestido branco e a sua atitude: sensual, confiante, como se fosse a única mulher à face da Terra. A mulher que queremos ser não é a que tem de estar impecável fisicamente o tempo todo, a equilibrista a nível de gestão de tempo, de cuidar dos outros e de uma série de coisas. É a que quer ter a oportunidade de ser ela mesma, de dançar como se ninguém estivesse a observar, de ser amada como se fosse infinita e não houvesse mais ninguém no mundo.



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