Miss representation
"Miss representation" é um documentário de 2011 escrito, produzido e realizado por Jennifer Siebel Newsom, que teve a sua estreia no Festival de Sundance.
Preocupada com as mensagens distorcidas que a sua filha Montana poderia receber quando crescesse, Newsom entrevista adolescentes e líderes que compartilham a sua experiência e oferecem um olhar sobre as pressões, problemas e desafios que têm enfrentado enquanto mulheres num mundo cada vez mais globalizado e frenético.
Sob a premissa "Não podemos ser o que não vemos", o documentário "Miss representation" deixa-nos a pensar sobre o papel da mulher na sociedade e nos tectos de vidro que ainda existem para aquilo que o género feminino ainda pode alcançar. Vivemos numa cultura patriarcal, com normas e valores que ainda remetem a mulher a um papel de passividade a que a entrevistada Lisa Ling alude: o esperar que um príncipe montado num cavalo branco nos venha salvar ao invés de nos tentarmos salvar a nós mesmas.
As mulheres numa posição de poder são vistas com desconfiança e escrutinadas publicamente com frieza e às vezes, crueldade. Verificam-se preconceitos e estereótipos que não são postos em questão quando se tratam de homens em cargos de chefia (a estabilidade emocional das mulheres é muito mais posta em causa bem como a forma como conciliam carreira e maternidade). A política Nancy Pelosi fala abertamente desta disparidade de critérios.
Os media têm um grande peso na forma como as mulheres se vêm a si mesmas. Há um foco exagerado na aparência das mulheres em detrimento das suas paixões, talentos, habilidades e capacidades individuais e no trabalho. Acabamos por, mesmo que de forma inconsciente, interiorizar que o mais importante é o nosso aspecto físico e não aquilo que podemos fazer. Existe então claramente uma objectificação feminina.
Para além disso, não há uma separação clara entre factos e opiniões, o que acaba por transmitir mensagens enviesadas e perniciosas. As agências de publicidade que investem pesadamente para vender os seus produtos furtam-se de assumir responsabilidade e argumentam que dão ao público simplesmente aquilo que ele quer e o ciclo repete-se: as mulheres são valorizadas pela juventude, beleza e pelo seu corpo, são subestimadas e postas de lado quando passam da idade fértil. Isto é flagrante em Hollywood, em que muitas actrizes de meia idade se queixam da falta de papeis interessantes dentro da sua faixa etária.
As consequências desta realidade são tristemente notórias. Adolescentes vivem em sofrimento e a contraírem desordens alimentares por não serem iguais às modelos nas capas de revista (cujas imagens são manipuladas por programas de photoshop, praticamente sem excepção), ou seja, sentem a angústia de não se sentirem boas o suficiente e não personificarem um qualquer ideal de perfeição física. Mulheres competem umas com as outras em vez de se unirem para alcançar objectivos comuns, sentem-se ameaçadas e inseguras facilmente. Em última análise, nivelam os seus sonhos por baixo, com medo de serem consideradas demasiado ambiciosas, de intimidar os homens ou das críticas destrutivas que surgem com o assumir de posições de liderança.
O que é preciso fazer para mudar este estado de coisas? Em primeiro lugar, como refere a jornalista e autora norte-americana Katie Couric os media podem ser um instrumento de mudança e de disrupção do status quo. Para tal, é preciso que as mulheres tomem as rédeas do seu próprio destino. Enquanto consumidoras, é importante fazer com que a nossa voz seja ouvida, promovendo a inclusão e a diversidade.
As mulheres têm de se sentirem despertas e inspiradas, contarem as suas próprias histórias, assumir o controlo da narrativa. Todas nós temos as nossas jornadas particulares mas se apoiarmos umas às outras tudo se tornará mais fácil e poderemos expressar mais facilmente as várias nuances da nossa personalidade e das nossas almas.
Uma mulher deve sentir-se no direito de se sentir segura e confiante, de ser mentora de outras mulheres, de assumir-se como líder se for o caso, de ser tudo aquilo que quiser ser, seja na esfera doméstica e pessoal (com a família, amigos, etc) seja em termos de carreira e trabalho. Deve sentir-se à vontade de assumir as suas forças e fraquezas, recusando ser rotulada, vivendo harmoniosamente a sua sexualidade e usando da sua liberdade de expressão para exigir ser representada da forma que deseja.
Há sempre muito mais para viver e contar do que aquilo que vemos. Como tal, é fundamental desafiar as percepções existentes do que significa ser mulher actualmente e continuar a lutar por mostrar as nossas competências e realizar as nossas aspirações. O Céu pode e dever ser o limite.
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