Desligar
Tendemos a procurar no outro aquilo que nos falta, de forma a sentirmos-nos mais revigorados e completos. É paradoxal como num mundo na era da comunicação em que podemos estar ligados das mais variadas formas, começamos a pecar pela falta de presença. Cada vez menos estamos inteiramente com as pessoas que gostamos, no aqui e agora, a cabeça divaga entre os planos para o futuro, nas notificações no telemóvel que nos alertam para uma realidade paralela em que o virtual vai ganhando cada vez maior espaço à conversa olhos nos olhos, mão na mão.
O terreno fica fértil para que todos os tipos de relações humanas, incluindo as amorosas, se tornem superficiais. Afinal, o conhecimento é tão vasto que se torna difícil o que quer que seja, poucas pessoas querem percorrer o caminho mais árduo e procuram encontrar atalhos que tornem a caminhada mais fácil e conveniente. Vivemos num mundo que nada mais tem de sólido, tornou-se feito de laços líquidos como postulou Bauman.
Conhecer uma pessoa pelos meios tradicionais, com tempo, calma e dedicação e sobretudo, constância parece uma abordagem conservadora quando com um rápido clique se podem conhecer um mar de gente, mil e uma caras para nos darem a falsa sensação de estarmos acompanhados quando a solidão nos assola. Afinal, porquê investir numa só pessoa e arriscar dar tudo o que se tem quando se podem ter relações múltiplas pela rama, divertidas e como está muito em voga dizer, leves?
Nunca altura em que estamos mais interconectados do que nunca, é incrivelmente fácil ignorar, não responder, não estar realmente presente. Dizemos tantas vezes que não temos tempo e estamos muito ocupados que acabamos por acreditar nas nossas próprias mentiras e esquecer que o tempo é o que se faz com ele quando se estabelecem prioridades claras e bem definidas.
Sem fazer juízos de valor sobre o que a lealdade e monogamia significa para cada um, vivemos numa época que sonha com tudo mas que vê as portas fecharem-se por não fazer escolha nenhuma. Porque para ter algo realmente precisa abdicar de tudo o resto.
E entre aqueles que fazem de menos para ter uma relação significativa, há os que fazem demais. Os que insistem, que não aceitam o não ou a indiferença como resposta, que tentam forçar uma química e um entendimento a qualquer nível cósmico que simplesmente não existe. Esquecem-se que os esforços têm de ser feitos na medida certa e de ambas as partes. Portanto, uns pecam por defeito e outro por excesso.
Quando uma tentativa de relação amorosa não resulta não há outro remédio que redireccionar a energia, foco e atenção de volta a si mesmo. Afinal, a relação que temos com a nossa pessoa é a única que temos como verdadeiramente garantida toda a nossa vida.
Que no final deste ano de 2017 consigamos ver com lucidez as relações que nos são benéficas e acrescentam e aquelas que por falta de vontade da outra parte estão condenadas ao fracasso. Que consigamos tomar resoluções com motivação e determinação, cortando pela raiz os males inadmissíveis e cuidando bem daquilo que é nosso, a parte que nos pode dar a sensação de controlo e harmonia.
É importante bloquear tudo o que no final de contas, é só ruído externo e voltar para o interior, para o centro de nós mesmo. Desligar-nos de estímulos stressantes e prejudiciais para nos ligarmos à nossa verdade, à nossa essência e ao nosso coração que apenas quer amor, compreensão e paz.
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