O livro do Hygge
Muito se tem falado do segredo dos dinamarqueses para serem o povo mais feliz da Europa. Meik Viking, CEO de um instituto de pesquisa sobre a felicidade em Copenhaga, desvenda-nos alguns dos caminhos para ter mais hygge na sua vida. O que é esta palavra que nos soa estranha e está tão em voga na actualidade? Hygge (pronuncia-se hooga) refere-se à sensação de aconchego da alma e de ter prazer na presença de coisas calmantes, bem como a arte de criar intimidade, entre outras definições possíveis. O importante não é saber descrever esta emoção na perfeição mas senti-la, diz-nos a abertura do livro.
O livro divide-se em capítulos que correspondem a uma componente da hygge em particular. O primeiro de todos é luz, sendo que os dinamarqueses são dos que mais acedem velas na Europa e são muito específicos em relação à iluminação que têm nas suas casas. Sabem que a posição da luz numa casa é de extrema importância para o ânimo e bem-estar geral dos seus ocupantes.
No segundo capítulo, Meik Viking aborda melhor o conceito de hygge e faz um manifesto para que todas as pessoas possam senti-lo: criar a atmosfera certa (baixar as luzes), estar presente (no agora, deixando de lado o telemóvel), procurar o prazer (café, chocolates, bolachas, doces, bolos, etc), praticar a igualdade (preferir o "nós" em vez do "eu" e se estiver num grupo dar destaque a todos os membros), gratidão (aceitar o que temos como o melhor que é possível no momento), harmonia (não competir, ser aceite por quem se é e não sentir que precisa de destacar os seus feitos), estar confortável (o importante é relaxar), dar tréguas a assuntos como política e evitar dramas, cultivar a proximidade (construa relacionamentos e narrativas, relembrando por exemplo momentos em que estiveram juntos) e sentir-se em paz e segurança, num autêntico refúgio com os elementos da sua tribo.
Em terceiro lugar, faça programas com os amigos que se tornarão de certo inesquecíveis. Um abraço carinhoso produz oxitocina, o que reduz o stress, medo e a dor e nos torna felizes.
O capítulo seguinte é inteiramente dedicado à comida e bebida. Delicie-se com um chá ou café quente no Inverno e saiba que cozinhar as próprias sobremesas aumenta os seus índices gerais de satisfação interior. Faça receitas novas e, apesar de sermos o que comemos, permita-se pecar de vez em quando e ser indulgente com boa pastelaria ou doçaria artesanal. Afinal, é hygge.
Vista-se de forma mais casual, com agasalhos quentinhos no Inverno como camisolas e meias confortáveis. É este o estilo mais adoptado pelos dinamarqueses.
A sua casa deve proporcionar-lhe descontracção e exemplificar o que é ter um lar, doce lar. Aposte num bom cadeirão (hyggerog), numa lareira, velas, coisas feitas de madeira, natureza, livros, peças em cerâmica, peças tácteis e vintage bem como em cobertores e almofadas. Hygge significa ser capaz de aproveitar os simples prazeres do momento e saber que tudo ficará bem.
Nas noites em que não temos energia nem vontade de sair, o autor recomenda um kit de emergência de hygge constituído por: velas, chocolate, o seu chá favorito, o seu livro favorito, a sua série de televisão ou programa favorito, compota, meias e uma camisola aconchegante, as suas cartas favoritas, uma boa almofada, música, paper e caneta, um caderno de notas (onde pode anotar os momentos mais hygge que viveu recentemente e revivê-los mentalmente de novo) e um álbum de fotos. Aprecie os momentos a sós, de forma lenta e cuidando bem de si mesmo.
É sempre possível tornar um lugar fora de casa mais hygge. As variáveis mais comuns para que tal aconteça são companhia, casualidade, proximidade da natureza e estar completamente no momento presente. Plantar um pequeno jardim no escritório pode fazer uma enorme diferença e melhorar o ambiente e estado de espírito de todos os que lá trabalham.
O livro contém muitas sugestões para manter os níveis de hygge alto durante todo o ano como planear noites de cinema, viagens de esqui, um mês temático, subir montanhas e cozinhar numa fogueira, ir para uma cabine numa paisagem idílica e desfrutar da natureza, fazer piqueniques, ver o solstício e chuva de meteoritos, apanhar cogumelos, comer castanhas no Magusto, fazer sopas em Novembro e panquecas em Dezembro.
As melhores coisas da vida são gratuitas pelo que pode cultivar o hygge e poupar ao mesmo tempo com jogos de tabuleiro, televisão, esquiar na neve, actividades ao ar livre, entre outras ideias.
O Natal é naturalmente a época mais festiva e mais hygge do ano. Há muitas tradições a ter em conta no que diz respeito à gastronomia e decorações mas o que importa é desfrutar deste tempo convenientemente e não envolvido em malhas apertadas de stress. O tempo pode ser curto para toda a lista de coisas que tem para fazer pelo que tente ser criativo e rodear-se da energia especial do Natal com os seus entes queridos.
No Verão pode fazer churrasco com a família ou amigos, passear em lindos jardins ou fazer deliciosos piqueniques na praia. Andar de bicicleta em vez de automóvel para todo o lado é outra dica que pode ser valiosa.
O hygge tem cinco dimensões: sabor, som, cheiro, textura e visão. Pode ser detectado e sentido em todo o lado, apesar de ser um conceito intangível e abstracto. O hygge envolve também um sexto sentido: confiar naqueles com quem se está e onde se está.
O último capítulo é dedicado à aspiração de todos os seres humanos: a relação entre o hygge e a felicidade. Envolve conceitos como saúde, qualidade de relacionamentos, alegria, integridade e tudo o que nos dá a sensação de a vida fazer a pena. É essencial ter redes de suporte social, saborear, agradecer e cultivar a felicidade de todos os dias. Aquilo que temos em abundância é o quotidiano. Não é preciso estar numa ilha paradisíaca para ser feliz, apenas estar mentalmente receptivo, pronto a absorver as melhores coisas do presente e a viver uma vida um pouco mais hygge a cada dia.
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