Portugal vence o Festival da Eurovisão 2017



Realizou-se no Sábado passado, dia 13 de Maio, a 62ª edição do Festival da Eurovisão da Canção, que teve lugar em Kiev, a capital da Ucrânia. 
Há 53 anos que participávamos na Eurovisão, sem uma única vitória. O melhor lugar que tínhamos obtido até então havia sido em 1996, com Lúcia Moniz, na altura com 19 anos, a defender a canção "O meu coração não tem cor", que ficou em sexto lugar. 
Ao longo do tempo o povo português já não vibrava com o Festival da Eurovisão. Foi-se instalando a amargura e a descrença, num certame em que razões políticas e a agora chamada música de "fogos de artifício", foi afastando as pessoas de uma celebração outrora tão importante e que parava o país. Afinal de lá saíram temas memoráveis de artistas como Carlos Paião, Eduardo Nascimento, Fernando Tordo, Manuela Bravo, Simone de Oliveira, José Cid, Anabela, Dina, Sara Tavares, etc. Temas esses que fomos trauteando alegremente ao longo da nossa infância (no meu caso), adolescência ou idade adulta e que se tornaram uma parte emblemática da identidade musical nacional.
Este ano podia ser mais do mesmo e no entanto, tudo foi diferente. Levámos o troféu para casa e arrebatámos corações no Festival que até agora tão ingrato relativamente à nossa participação tinha sido. Reunidos sob o slogan "Celebrando a diversidade", artistas de 26 países deram o seu melhor e fizeram deste um espectáculo marcante e bonito que primou exactamente por isso: por uma mistura ecléctica de músicas (desde baladas, música electrónica, de dança e influenciada pelo reggae, rap e até tirolês) que manteve no geral, uma qualidade satisfatória.
Concorremos com o tema "Amar pelos dois", composta por Luísa Sobral para que o seu irmão, Salvador Sobral, interpretasse. E o que dizer da canção que nos levou ao triunfo eurovisivo? Emocionante, singela, peculiar. Os adjectivos positivos faltam. A melodia é perfeita assim como a letra que fala sobre a ânsia de um amor de forma paciente e abnegado. Os arranjos de Luís Figueiredo são como o condimento bem temperado da canção, sem mais nem menos, na dose exacta que faz brilhar o poder da mesma. Mas no meu entender o que faz "Amar pelos dois" tornar-se num verdadeiro hino é a interpretação de Salvador Sobral, que tem um mérito difícil de descrever. A sua entrega e sensibilidade fazem toda a diferença e tornam a nossa música extraordinária porque é sentida, genuína, despida de pretensões. É o apogeu da carreira de Salvador mas também é a vitória de todos nós, da nossa arte, da nossa língua, da nossa cultura no mundo.
Nesse dia pareceram completar-se os três F's da ditadura de Salazar: Fátima (o Papa Francisco veio como peregrino canonizar os pastorinhos Jacinta e Francisco Marto), futebol (o Benfica venceu o Campeonato Português) e o fado (neste caso, mais particularmente, o festival).
Depois de conquistarmos o Campeonato Europeu de Futebol em 2016, é nossa a Eurovisão de 2017, com a pontuação de 758 pontos, um feito inédito para a nossa história e um motivo de grande orgulho de todos os portugueses. Salvador venceu porque fez toda a Europa sentir com ele e Portugal nunca esquecerá de o amar por isso.


Imagem retirada de: https://www.izlesene.com/

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