Of two minds

"Of two minds" é um documentário de 2012 realizado por Douglas Blush e Lisa J. Klein sobre pessoas, de personalidades e vidas distintas afectadas pela doença bipolar na América dos dias de hoje.
Temos, entre outros, a história de Cheri Keating, uma maquiadora bem-sucedida na casa dos trinta, Carlton com sessenta e poucos anos que através das suas pinturas relata as complexidades da sua doença, Liz Spikol, autora e editora de um jornal, que desenvolveu os primeiros sintomas após ter sido violada. Testemunhos como da actriz Jenifer Lewis e da escritora Terri Cheney, que se celebrizou com livros como "Manic: a memoir" e "Dark side of innocence: Growing up bipolar" são igualmente importantes para elucidar o que significa ter uma doença mental como esta e tentar viver harmonicamente em sociedade. 
O documentário explora as lutas, as amarguras e sucessos destas pessoas em entrevistas reveladoras que ilustram a grandiosidade, euforia e sensualidade da fase maníaca da doença e o lado de desespero, dor e angústia da fase depressiva. Os problemas, a relação com os medicamentos e os pensamentos e tentativas suicidas são revelados por estas pessoas despudoradamente, sem deixar nada de fora.
Divertido, tocante, honesto e cheio de esperança, "Of two minds" tira a doença bipolar das sombras e dá-lhe um rosto humano. É uma patologia que cada um sente e vive à sua maneira, de acordo com as suas próprias idiossincrasias e experiências. Se todos temos uma identidade única, ao diagnosticar-se alguém como doente mental de acordo com a DSM (Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders), o modo de ver e lidar com a doença continuará a ser muito singular. 
A doença bipolar é retratada como mais que explosivos momentos baixos e debilitantes momentos baixos, é uma jornada profunda e caótica ao que nos faz sentir entusiasmo e paixão, ao que nos paralisa e deixa apáticos. 
Sob a premissa "Pega no teu melhor dia e no teu momento mais escuro... multiplica-o por um milhão" "Of two minds" mostra-nos acontecimentos marcantes, discriminação e estigma social em que vivem cerca de cinco milhões de americanos, lançando uma nova luz sobre a doença bipolar, de forma calorosa e humanizada. Termina numa nota de esperança, subentendendo-se que é sempre possível recuperar das fases mais complicadas da doença e até superar expectativas externas.
O documentário é ainda mais pungente por ser dedicado à irmã da co-directora Lisa Klein, Tina, que foi diagnosticada com doença bipolar no início dos anos noventa. No caso de Tina, a doença manifestava-se por gastos excessivos nas compras, férias elaboradas e uma sensação de ser maior que a vida que dava lugar a depressões graves e um abuso de álcool que se revelou fatal. Tina Klein morreu em 1994, com 42 anos. Era terapeuta e trabalhadora social pelo que estava ciente do estigma associado à doença mental. Segundo a sua irmã Lisa "Ela lutava com a vergonha e discriminação que acompanhou o seu diagnóstico e em última análise sentiu-se simultaneamente definida e apagada pela sua doença. O sofrimento da Tina era tão real como qualquer paciente a lutar contra uma doença crónica, no entanto a compressão e compaixão em relação a esse sofrimento estava quase ausente. Sabendo o que a Tina enfrentou na sua luta motivou-nos a ver o quão longe chegámos e não chegámos desde a sua morte. Sentimos que um filme que segue intimamente as vidas de pessoas diagnosticadas como bipolares pode reduzir verdadeiramente os preconceitos e pensamentos antiquados sobre esta condição".
Este é pois um filme tendo Tina como força motriz mas que acaba por ser vital para todos aqueles que, lutando ou não com alguma forma de doença mental, precisam de sentir que não estão sozinhos e que, afinal, há sempre uma luz ao fundo do túnel.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

O talento de Mira

As cicatrizes das famosas

A história de Marla