Dois olhares sobre o cancro

O cancro é uma doença devastadora que põe à prova toda a força, coragem e resiliência do espírito humano. Independentemente de se sobreviver a ele ou não, a história que fica vale a pena ser contada na medida em que pode informar, consciencializar e até ajudar outras pessoas. 
O livro "Aproveitem a vida" de António Feio é umas histórias que mais sensibilizou o público português pela mensagem pungente, motivante e emotiva que nos deixou, tão simples e ao mesmo tão difícil, por vezes, de ser colocada em prática.
António Feio (1954-2010) foi um actor português e também encenador e dobrador. Fez inúmeras peças de teatro e notabilizou-se pelo espectáculo de grande sucesso "Conversas da treta", que também deu origem a um filme protagonizado ao lado do colega, José Pedro Gomes. Foi distinguido como Comendador da Ordem do Infante D. Henrique. Face à descoberta de um cancro no pâncreas, António Feio impressiona pela maneira como encara a doença, mantendo uma atitude calma e buscando possíveis soluções para o seu problema sem nunca baixar os braços. O livro examina a vida do actor, em que se lamenta por alguns erros do passado e partilha a sua sabedoria com os leitores, exortando as pessoas a serem positivas e a continuarem em frente sem nunca desistir. Uma das frases mais bonitas e significativas que nos lega para a posteridade é "Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros. Apreciem cada momento. Agradeçam, não deixem nada por por dizer, nada por fazer". 
António Feio viria a falecer no dia 29 de Julho de 2010 na unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz, em Lisboa. Tinha 55 anos de idade.



Reynaldo Gianecchini nasceu a 12 de Novembro de 1972, em Birigui, no nordeste de São Paulo. O famoso actor e modelo brasileiro, descendente de italianos, arrebatou corações ao entrar pelos ecrãs na telenovela da Globo "Laços de Família". O papel do galã Edu adequou-se como uma luva e criou-lhe um rótulo de símbolo sexual de que se tentaria livrar nos anos seguintes.
"Giane Vida, arte e luta" da autoria do conceituado jornalista Guilherme Fiuza traça um relato biográfico de forma não cronológica de Reynaldo, desde a infância rural, o sonho de conhecer o mundo e o fascínio pela arte da representação. Vários foram os papéis do actor (também conhecido por Giane) em teatro, televisão e cinema. "As filhas da mãe", "Esperança", "Mulheres apaixonadas", "Da cor do pecado" "Belíssima" e "Passione" foram algumas das novelas em que brilhou. Independentemente de encarnar o protagonista, o vilão ou a personagem cómica da trama. Giane sempre personificou o ideal apolíneo de forte, cheio de vitalidade e perfeita saúde. Como tal, foi com choque e consternação que se recebeu a notícia de que o adorado actor sofria de cancro. 
O epicentro do livro é a luta de Reynaldo pela sua vida, numa história de emoções fortes em que tudo está em jogo e a sua fé e resistência física e mental são mais testadas do que nunca. A doença foi detectada em 2011 em exames feitos no Hospital Sírio-Libanês (São Paulo). Mais concretamente, tratava-se de um linfona não Hogkin do tipo linfoma de células angioimunoblástico. Em 2011, com 38 anos de idade foi submetido à primeira sucessão de quimioterapia na unidade hospital acima mencionada. O tratamento, durante o qual o actor perdeu o pai para a mesma doença, foi bem-sucedido. Reynaldo Gianecchini tem actualmente 44 anos de idade e do cancro retirou a necessidade de viver intensamente, com alegria, prazer e gratidão por cada dia que lhe é concedido. É esta a mensagem principal que tiramos deste testemunho tão empolgante e interessante em que sentimos a importância de acreditar mesmo contra todas as probabilidades e da auto-superação.



Estas são duas histórias de finais distintos: uma em que o cancro foi fatal e outra em que se transformou num episódio transformador de vida. No entanto, ambas foram extremamente enriquecedoras e abrem os olhos para uma doença cada vez mais comum, que não pode nem deve ser tabu já que partilhar é que dá sentido às experiências e é um valioso contributo que podemos dar aos outros. 
Só encarando de frente o cancro podemos conhecer melhor aquilo com que estamos a lidar e procurar as estratégias de combate mais adequadas ao nosso caso em particular. Não existe ganhar ou perder, todo aquele que luta com esta doença tão complexa até ao fim já é um vencedor.

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