Do Outono e do sofrimento




O Outono chega e com ele renovam-se as esperanças de poder recomeçar, de realizar sonhos e viver momentos especiais e que façam a diferença. As roupas leves dão lugar a trajes mais quentes para enfrentar o frio que já se faz sentir, as folhas das árvores nos seus tons castanhos já assomam nos passeios, como uma metáfora das transformações que passamos diariamente. A cada dia, as células do nosso corpo modificam-se, os nossos fios de cabelo caem, novos valores substituem os antigos. Muitas vezes nem sempre o tempo passado é sinónimo de aprendizagem e de maior inteligência apesar de tendencialmente o acumular de mais experiências nos prepare melhor para enfrentar tempos mais agrestes e duros.
Neste mês de Prevenção do Suicídio devemos manter nas nossas mentes as pessoas que estão a sofrer quer pela fome, a guerra, por terem perdido um ente querido, pelas derrotas da vida ou porque um qualquer inferno se instalou nas suas mentes, aprisionando-as numa espiral de pensamentos destrutivos, tornando-as como reféns dentro do próprio corpo.
Numa altura em que se fala mais de ansiedade, ataques de pânico e depressão o que estamos a fazer globalmente para prevenir e combater este problema, este cenário por vezes tão negro que toma conta da alma, da química do cérebro, do que quer que se entenda por consciência?
Por vezes pecamos por puro egoísmo, pela incapacidade de olhar para o outro que está ao nosso lado e averiguar o que ele necessita. Outras vezes é por medo de afirmarmos a nossa identidade, de expressarmos os nossos desejos e passarmos por estúpidos, acabando por envolver-nos numa situação embaraçosa. Em tempos conturbados como estes em que passamos uma boa fatia do nosso tempo útil com o nariz enfiado nos nossos smartphones ou só saímos de casa para caçar Pokemons onde está a alegria que colmate as lacunas, os vazios que tantas vezes deixam a sua impressão digital tão duradoura sobre nós como se de ferro sobre o fogo se tratassem? Onde estão as pessoas que sabem o que precisamos de dizer sem abrirmos os lábios, que nos lêem até à medula porque são feitas de um bocadinho de nós? Onde está o amor, esse bem tão essencial no Universo que escasseia como dizem que a água potável poderá escassear em breve?
Temos a oportunidade de reflectir nesta nossa estação sobre os caminhos principais e atalhos que tomámos e averiguar se as nossas decisões foram certas ou erradas. E, por sorte, ainda temos uns poucos de meses até ao final do ano para alterarmos o nosso rumo se não gostarmos dele e tomarmos resoluções que podem alterar o curso da nossa história. Para aqueles que estão a sofrer, é necessário ter em mente que sentir seja o que for é melhor que sentir coisa nenhuma, que desconforto e nervosismo são sinais de que se está vivo. A inquietude interior pode ser saudável, é melhor do que paralisia e indiferença porque indica que ainda queremos lutar, que no fim de contas, ainda nos importamos. E isso é tudo o que precisamos para superarmos os atritos e declives e ganharmos força motriz para voltar a saltar decididos para o vagão do comboio que é a nossa vida, agarrados aos pensamentos de ter uma boa viagem, ancorada em valores que nos nutram o espírito, que possa ter como destino final algo bonito e memorável, esperado ou surpreendente, que nos sussurre ao ouvido "Estiveste aqui".

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