Yalom's cure



Realizado por Sabine Gisiger, "Yalom's cure" (2014) apresenta um olhar sobre a jornada existencial pelas várias camadas da mente humana, com os pensamentos e sabedoria que o psiquiatra e escritor Irvin D. Yalom acumulou ao longo de muitos anos de leitura e trabalho na prática de psicoterapia. Autor de obras como o célebre "Quando Nietzsche chorou", "A cura de Schopenhauer", "O carrasco do amor", "Mãe e o sentido da vida", "Mentiras no divã" e "Os desafios da terapia", Yalom começa por comparar o inconsciente a um recife de coral e refere-se a si próprio como um guia na auto-exploração.
Yalom urge-nos a reflectir no que poderemos fazer agora para daqui a um ano olharmos a nossa vida sem arrependimentos. Segundo o psiquiatra, o nosso lado animalesco está na origem da violência e disfunções na expressão sexual, com sintomas próprios.
Yalom conta-nos um pouco da sua história: filho de emigrantes polacos, de uma mãe muito exigente e nunca satisfeita com as suas conquistas, Irvin cresceu numa espécie de gueto e decide tornar-se médico após o progenitor ter sofrido um ataque de coração e este ter sido muito confortado pelo clínico que acorreu à situação. Reflectindo sobre a dor ao perder a mãe, Yalom diz que a morte é particularmente dura quando se tem assuntos inacabados com o falecido, que ficam como congelados no tempo.
A maioria das pessoas que procura a sua ajuda, defronta-se com muito desespero e dificuldade em estabelecer relações íntimas com outras pessoas. O facto é que nunca nos poderemos conhecer completamente a nós próprios, assim como nunca conhecemos completamente o outro e uma relação é sempre uma sinergia, uma dança entre o que se recebe e o que se doa. 
Yalom diz que o que preocupa as pessoas individualmente é muitas vezes igual ao que preocupa o colectivo enquanto raça humana. A auto-consciência causa muitas vezes ansiedade e stress, que pode ser diluído se passarmos de um estado de primazia do "eu" para o nós; ou seja, para uma experiência de fusão. Uma das formas de passar para este estado é apaixonar-se, em que de certa forma perdemos a noção de nós próprios. "O amor não é só uma faísca entre duas pessoas. Há uma diferença infinita entre cair de amores e permanecer apaixonado" considera o terapeuta.
O casamento de muitos anos com a esposa, Marilyn, bem como a sua cumplicidade e afectuosidade são bem visíveis ao longo de todo o documentário. Ao comentar sobre o sucesso da sua união, Marilyn refere que têm tido um compromisso primário um com o outro, fazendo da relação entre os dois prioritária, à medida que apareceram tentações e outros obstáculos.
A terapia de grupo, cujos extractos de sessões são mostrados no documentário, revela-se muito útil na medida em que o terapeuta pode identificar o que distancia o indivíduo das outras pessoas e apresentar um ponto de referência para a dor que cada um sente. O sofrimento humano é uma das questões intransitórias com que todas as pessoas se defrontam mais tarde ou mais cedo, assim como o isolamento (os modos de sublimar o eu solitário), o sentido da vida e a morte. As respostas a estes grandes enigmas variam culturalmente.
Dentro do próprio ser, há níveis profundos ou camadas que nem este nem ninguém conhece e é importante pensar nisso. Há experiências que são particulares, pessoais e transmissíveis, que não podem ser partilhadas de forma alguma; espaços que não podem ser preenchidos. Segundo Irvin D. Yalom uma das maneiras de vencer a ansiedade e o medo/terror da morte é viver a sexualidade como o centro da experiência de estar vivo. 
Apesar de considerar a visão do Céu cristão como um conto de fadas, o médico e autor termina numa nota de esperança citando Arthur Schopenhauer que afirmou que assim que se libertou das suas compulsões e pulsões tirânicas, conseguiu apreciar muito mais o sol, o céu nocturno e as estrelas. Yalom conclui apelando à beleza da contemplação e ao valor de apreciar até as coisas consideradas pequenas na vida.





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