Despertar

Atropelada por pensamentos, por sensações, por desorganização. É como muitas vezes o meu dia-a-dia funciona. Somos confrontados com as decisões que temos de tomar a cada instante em que estamos acordados: o que comer, que série de televisão assistir, o que fazer com o nosso tempo livre, que carreira escolher (se é que este termo ainda faz sentido nos tempos conturbados que correm). Temos mil e uma marcas de cereais, de shampos, de telemóveis, uma abundância tão grande de todas as coisas que se torna difícil imaginar uma época da história em que a espécie humana não tivesse produzido excedentes e consumido a seu bel-prazer. E no entanto, o homem primitivo comia o que conseguia caçar e tinha muito pouca escolha. E mesmo que não conheçamos pessoalmente essas realidades, milhões de pessoas continuam a viver assim na actualidade: lutando por acesso a água potável, a uma alimentação, a outros bens essenciais como roupa ou um tecto e claro, uma educação. Todos temos o direito de nos sentirmos seguros, bem no corpo que possuímos com a mente clara e límpida. 
Todos temos sonhos: desde ter uma casa grande com jardim, um carro de luxo, construir uma família... O facto é que o ser humano é impulsionado pela sua ambição (nem que seja a de ter mais um ano de vida quando se está gravemente doente). As nossas ideias, frágeis e imberbes ou sólidas e viáveis formam a fundação a partir da qual traçamos planos e delineamos o nosso futuro, usando de toda a nossa fé e uma boa dose de criatividade. 
À medida que envelhecemos temos menos paciência para que não importa e só ocupa espaço, aprendemos a desistir do que só nos faz mal e a dizer não. É um processo duro, com altos e baixos mas absolutamente necessário para o nosso amadurecimento.
Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta. Por vezes é verdadeiramente incómodo perguntar quem habita o nosso corpo e o que nos move mas como todas as perguntas importantes, é algo que tem de ser feito. Só assim o nosso sorriso pode ser completo, porque tem raízes profundas e não se esbate com as tristezas do quotidiano, pode ser o nosso amuleto e melhor cartão de visita porque nos fortalece, ensina e protege. Despertar para a vida pode ser singularmente belo, uma experiência de partilha e de mudança contínua, de dentro para fora.


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