Desgaste

Segundo dados divulgados publicamente hoje 40,5% dos médicos da região centro tem sinais de exaustão emocional (burnout) e um quarto deles obteve valores elevados na escala da depressão. Uma fracção dos médicos (17,1%) apresenta despersonalização (falta de empatia, cinismo, insensibilidade, irritação e outras atitudes negativas) e uma percentagem ainda maior (25,4%) não se sente realizado profissionalmente. Este quadro é frequente entre os médicos mais jovens, dos 26 aos 35 anos. Dos médicos analisados, 44% afirma praticar uma actividade desportiva mas apenas uma percentagem diminuta (11,8%) pratica meditação ou técnicas de relaxamento.
A qualidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS) pode ficar seriamente comprometida se esta sintomatologia de cansaço físico e emocional crónico dos profissionais de saúde se agravar. Para estas estatísticas preocupantes contribuirá o facto de 18,7 dos médicos inquiridos trabalhar mais de 60 horas por semana e a crise económica e desorganização do próprio SNS.
Nos tempos actuais é muito fácil chegar a um estado de exaustão acentuada, em que as pessoas se sentem estagnadas, frustradas, não realizadas e se despersonalizam. Juntando a isso a falta de tempo para si próprias e para o lazer e é um cocktail explosivo de sentimentos de tristeza profunda, ansiedade e stress. Têm de se procurar com urgência antídotos para este estado de coisas, buscando soluções quer na Psiquiatria quer na Psicologia que forneçam o acompanhamento que todas as pessoas em situação crítica necessitam. Todos somos pressionados de uma outra forma e a sociedade pode contribuição de vincos emocionais, que quanto mais o tempo passa, mais difíceis serão de serem "passados a ferro". À medida que a impaciência e o desespero crescem, vamo-nos centrando cada vez mais naquilo que não temos e as imperfeições da nossa vida tornam-se tudo o que vemos, como enormes cicatrizes na pele. O que falta para nos sentirmos impecáveis por dentro e por fora? Não será deixar o tempo passar e continuar mergulhar em sofrimento, não será tentar carregar todos os fardos sozinhos e suportar as intempéries de dentes cerrados. Muito possivelmente, é pura e simplesmente procurar ajuda e começar o trabalho interior que lhe permitirá aprender a ter espaços para respirar, aliviar a carga que transporta e começar a sorrir com mais frequência.

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