Barbie



Quando era pequena, como a maioria das crianças, adorava Barbies. Algumas das minhas memórias de infância mais entusiasmantes prendem-se com ler a revista da Barbie ou comprar umas sapatilhas cor-de-rosa e brancas da Barbie que emitiam brilho. Tive muitas bonecas nessa altura mas apenas duas Barbies verdadeiras: a Barbie Doutora e aquela que eu chamava de Barbie de dormir (Slumber party no original) que deram azo a milhares de brincadeiras. Lembro-me que a primeira vinha com uma mala de primeiros socorros e um estetoscópio cor-de-rosa que dava para ouvir o bater do coração do bebé que trazia com ela. Vinha com um lindo vestido azul e uma bata branca. No caso da segunda, a que cortei o cabelo em vários tamanhos, era muito maleável e feita de tecido fofo e os olhos fechavam-se quando se molhavam com água. Era uma presença muito reconfortante nas minhas noites.
Nos últimos anos a Barbie ganhou uma má reputação, cunhando-se o termo "Síndrome da Barbie" para descrever o desejo de ter uma aparência física e um estilo de vida iguais ao da boneca, que se aplica a crianças, adolescentes e até pessoas adultas. Sabemos que tentar imitar alguém, mesmo um ser inanimado, pode ser incrivelmente prejudicial. Em primeiro lugar, porque a Barbie, na sua versão mais conhecida, apenas representa um ideal de beleza: o caucasiano, com os seus olhos azuis celestes e compridos cabelos louros. Para além disso a forma física da Barbie é inatingível na realidade (diz-se muitas vezes que uma mulher com estas medidas não teria espaço para os órgãos vitais do seu corpo e não poderia ter filhos por ter ancas tão estreitas). Como tal, é importante que a Barbie represente a diversidade de belezas que existem no mundo actual, o que se reflecte em modelos mais recentes da boneca com cabelos escuros, pele morena, cintura mais ampla e curvas mais acentuadas. Porém, não penso que gostar de Barbies seja nociso per se para as crianças e pode estimular hábitos muito saudáveis: o de sonhar com uma vida melhor, com cor, surpresas e animação, tendo sempre como base de que nada é perfeito. A Barbie pode motivar as crianças a ser tudo o que queiram ser desde astronauta, cantora, salva-vidas e até doutora (e saber que podem desempenhar cada uma destas profissões em grande estilo) tendo sempre em conta que não é preciso necessariamente ser magra para ser feliz e bem-sucedida. Como tudo na vida é preciso que os pais vigiem os seus filhos e lhes expliquem que os bonecos apenas nos apresentam estereótipos a ser consumidos com conta, peso e medida. 
É impossível não sentir nostalgia ao olhar para as Barbies que tive e lembrar dos tempos que já lá vão. Mas, é possível alimentar a criança dentro de nós diariamente e olhar para trás com afecto e algum desprendimento, pensando que o melhor ainda está para vir.



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