Dias maus 2


Não têm de ter um motivo em particular, apenas têm de ser acompanhados de uma sensação de falta de direcção, de queda no vazio, de ausência de sentido e finalidade. Arrastam-se morosos porque cada minuto é cheio de lamento e de mágoa, nenhuma actividade é prazeirosa o suficiente para afastar os pensamentos negativos, o sentimento de impotência e a tristeza. Caminha-se não em consonância com o decorrer do dia mas com dificuldade, a arrastar os pés, sentindo o coração nas mãos. Todas as tentativas para preencher as lacunas da alma se revelam inúteis, estamos longe do plano que estabelecemos para nós, o azar parece perseguir-nos a cada esquina. E no entanto, por vezes encontramos as palavras certas para dizer o que calámos tanto tempo, para explicar porque não estamos a viver um dia normal, porque o dia é mau. Mas esses momentos são raros, instáveis e precários como é a própria vida. 
Aprendemos com a alegria e aprendemos com a dor. Aprendemos com a companhia e aprendemos com a ausência. Não sabemos bem como, simplesmente vivemos. O nosso mal não é nada comparado com dramas que vemos nas notícias todos os dias, com o sofrimento alheio. Como tal, revela-se necessário relativizar e pensar que todos os dias ruims têm um fim. "Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe" foi uma frase que sempre me reconfortou. Porque os caminhos áridos podem conduzir a prados verdejantes e as feridas interiores a um coração pleno, a bater inteiro, quase a explodir de tanta felicidade.

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